21 maio 2007

 

Não quero confiar


Sou de uma geração que suspeita do poder. Estou entre autonomistas e ultra-liberais – libertários dividindo-se em esquerda e direita. O que nos distingue é a justificação da autoridade. Os da direita aceitam a autoridade mercantil de combate individualista. Os da esquerda aceitam a autoridade dos colectivos em que se participa sem comando totalitário. O cinismo e o niilismo em diferentes combinações são a nova condição humana. Acabaram-se os mitos, ficaram os corpos.

É politicamente que rejeito as classes profissionais, e com particular convicção a parelha advogados e médicos (aos últimos também não os suporto visceralmente). O discurso especialista justifica com a simples evocação de um interesse público as maiores atrocidades aos corpos e às mentes. A história da medicina é um periódico exercício de amnésia. Cada geração “corrige” os erros do passado, e convence-nos que avançou porque diligentemente assassinou a sua paternidade. Não me chega que a medicina hoje seja marginalmente melhor que a anterior, porque melhor que péssimo pode ainda ser demasiado mau. Por exemplo, estamos convencidos que a medicina hoje é avançada porque acabou com as lobotomias, ou seja suspendeu a medicina de há quarenta anos. Daqui a outros quarenta, estaremos a falar do fim das lobotomias químicas dos anti-psicoticos actuais. Os esquizofrénicos deste mundo não são nem curados nem são felizes, são controlados.

Sobretudo as profissões tecem véus e intrigas sobre o que fazem e o que sabem. Afinal que certeza têm nos diagnósticos, o que conhecem das doenças, da inflação, do aquecimento global, da justiça do processo, da erosão da dunas? Fingem saber para decidir por nós.

Comments:
"51% ou of ten" é muita bom!
 
Acho que e' "SIX out of ten". Em contexto, o engracado e' que os 4 que sobram sao todos negros, que eram em Tuskegee o grupo de controlo que foi contaminado para se observar a "historia natural" da doenca.
 
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