29 abril 2007
Epidemiologia cultural
De início era uma praga inominável que vitimava os desviantes, os homossexuais, heroinómanos, prostitutos, e promíscuos. Contra o cenário da década de 80 de refugo conservador nos média e na política, este trauma silencioso destruiu comunidades LGT mas muniu outras de consciência social e política.
E depois deram-lhe nome de retro-vírus, HIV (até lhe tiraram fotos), e a doença de comportamentos transformou-se na doença da ignorância. Campanhas públicas demonstravam como evitar a contaminação, sem por em causa identidade sexual. A SIDA tornou-se em totem do drama, representada em filmes, livros, e música. Sobre a doença somavam-se reflexões sobre a condição humana e as ansiedades ocidentais com o corpo. E era afinal fácil apropriar controlo da nossa mortalidade pela simples lembrança de usar um preservativo.
Hoje, as farmacêuticas descarregam novos anti-retrovirais todos os anos: nucleoside analogues, reverse transcriptase inhibitors, e as novas gerações de protease e fusion inhibitors. Para quem tem dinheiro a mortífera praga tornou-se uma maleita crónica, que pode ser enquartelada durante décadas. A revolução química impôs à doença nova mutação cultural. O mapa da doença inverteu-se e a SIDA é agora a doença dos pobres do terceiro e do primeiro mundo. É um objecto de caridade, esquecida como sujeito de drama.
O Lamarck é que tinha razão: o ambiente, o capitalismo dita as mutações adaptativas.
Comments:
<< Home
há dois anos, se não me engano, houve uma grande conferência mundial sobre o HIV e a SIDA. As principais conclusões, da parte de quem foi acompanhando os trabalhos, foi que há um enviezamento impressionante no financiamento da investigação médica: as estirpes predominantes nos países em desenvolvimento são as menos estudadas, apesar de serem as de maior incidência global.
falou-se também do papel dos EUA: após a eleição de Bush, muitas ONGs que faziam trabalho de prevenção junto das populações dos países em desenvolvimento deixaram de ter apoio dos EUA por não alinharem na promoção da abstinência como forma de combater a epidemia.
o darwin deve andar às cambalhotas no túmulo...
falou-se também do papel dos EUA: após a eleição de Bush, muitas ONGs que faziam trabalho de prevenção junto das populações dos países em desenvolvimento deixaram de ter apoio dos EUA por não alinharem na promoção da abstinência como forma de combater a epidemia.
o darwin deve andar às cambalhotas no túmulo...
Em África, apenas 25% dos casos conhecidos de SIDA estao a ser medicamentados. Isto deixa os outros 75% e os que ignoram a sua situacao na senda da morte.
Enviar um comentário
<< Home
|
|
|
|