12 abril 2007
Domesticar o corpo das negras
Três alunos da universidade de elite Duke nos EUA viram levantadas as queixas de abuso sexual e sequestro de uma jovem negra. Foi há mais de um ano quando a equipa de lacrosse organizou uma festa e pagou a jovens strippers para divertir a manada. Os rapazes afinal não são violadores nem raptores. Sobre a festa, idiota e nojenta, promovida pela equipa e paga pela universidade, todos cumprem silêncio.
No mesmo dia, o locutor de rádio Don Imus foi despedido, porque chamou de “nappy-headed hos”, literamente prostitutas de cabeça de fralda (entre outros assédios), as jovens da equipa de basketball de Rutgers. O locutor revoltou-se com o aspecto das jovens: tatuadas e, segundo ele, com ar agressivo. Os comentários, entenda-se, foram dirigidos não só às jogadoras, mas a todas as mulheres negras e aos seus corpos. O problema é que a coisa acontece, repete-se, mas é sempre vista da mesma maneira: há este ou aquele homem indecente, que depois de cometida a imoralidade, vem com pedidos de desculpa, para a seguir re-emergir aparentemente reabilitado.
Racismo, abuso sexual e discriminação de classe, intrínsecos à história e à política social americana, é do que se trata. São inúmeras, por exemplo, as políticas de promoção do casamento como forma de reduzir a pobreza, que almeijam directa ou indirectamente as mães solteiras negras. Não é um problema de estereótipo, imoralidade ou indecência. É uma guerra ideológica que constantemente humilha e regula as mulheres negras, os seus corpos e as suas sexualidades.
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