24 abril 2007

 

“Conta-me como foi”


Fala de poder comezinho, de pobreza, de preconceito. Nada que não exista no Portugal de hoje, mas que era mais declarado em Março de 1968. É uma série nova da RTP1, copiada de um formato espanhol.

A história é simples e conta muito do Portugal da época. Uma família em Lisboa mas que veio da província vai conseguindo que o dinheiro estique, inclusive para comprar uma TV. O pai trabalha no Ministério das Finanças e também numa gráfica de um senhor engenheiro qualquer. A mãe é doméstica. A filha, cabeleireira, namora um rapaz e conseguiu a pílula que lhe deu uma amiga que a arranjou por alguém que a trouxe de França (a pílula, não a amiga).

O rapaz mais velho entusiasma-se com o ye-ye, o mais novo tenta do alto dos seus 8 anos perceber as mudanças que se vão dando à sua volta. Por entre uma conversa mal escutada, convence-se de que vai morrer de cancro do útero (!). Esclarecida a questão, que passou por uma fuga de casa da qual o pai (esse garante da ordem familiar) não chega a ter conhecimento, tudo volta ao normal.

Mas há alguns pormenores deliciosos que prometem: o miúdo explica a um amigo porque é que a mãe de outro amigo lá do prédio não pode ser chamada “mulher de vida fácil”, como ele já ouviu (explique-se: mãe solteira). “Ora se ela não tem marido, tem que trabalhar, lavar roupa, cozinhar e criar o filho sozinho, isso é lá vida fácil?”

Mostrando o efeito da ditadura nos aspectos mais pequenos do dia-a-dia (o poder do padre sobre as pessoas, os peditórios por tudo e por nada, a discriminação e os preconceitos), falta ainda a sua face mais dura. Talvez num próximo episódio?



   

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