20 março 2007

 

O ovo ou a galinha


O novo governo de unidade nacional Palestiniano tomou posse. Representados neste executivo estão organizações que contabilizam 96% dos votos Palestinianos no último sufrágio. Esta extraordinária legitimidade democrática levou ao reconhecimento do governo pela Noruega, França, Itália e Espanha. A UE adia uma decisão, mas parece inevitável que ponha fim ao seu embargo à Ajuda para a Palestina.

Já a parceria Israel-EUA permanece imóvel, numa coincidência de posições que inquieta muitos que não discernem quem vai ao leme – são os EUA que ditam as regras a Israel, ou Israel que determina e os EUA seguem?

Israel recusa-se a negociar com o novo executivo. A posição Israelita a cada dia soa mais formal e minimalista. Israel exige a renúncia Palestiniana do terrorismo -- o novo governo comprometeu-se a respeitar todos os acordos internacionais sobre conflito e direito à resistência, que impede violência contra alvos civis. Israel exige o reconhecimento da sua existência como Estado -- o novo executivo comprometeu-se à existência de dois Estados, com a Palestina circunscrita às fronteiras de 1967.

A doutrina Sharon permanece vigente em Israel e é o motivo para o boicote das negociações. A solução pretendida é unilateral, com Israel escolhendo devolver a indigente Faixa de Gaza mas guardando férteis porções da Cisjordânia, violando as fronteiras de 1967, e impedindo o retorno de refugiados Palestinianos para Jerusalém Oriental ou para o restante de Israel. É esta prepotência colonial e não a ameaça do Hamas que move Israel.

A par, os EUA anunciam que só dialogam com os elementos moderados do novo governo, entenda-se recusa de negociação com a maioria do Hamas. Mas para os EUA esta situação não convém. Atolados no Crescente Fértil, numa guerra que não parece ter fim, os EUA podiam beneficiar de progresso na Palestina para criar apoio árabe que tanto lhes falta. Os Democratas no Capitólio não se cansam de o bradar, mesmo um resultado simbólico servia. Mas a Casa Branca não quer ouvir, e segue Israel.

Comments:
Israel tem uma agenda própria e é esta que mais vezes do que não é cumprida (em relação à agenda do irmão mais velho).

Não percebi o porquê do apelidar de doutrina Sharon?
 
Foi o Sharon quem fez da unilateralidade credo. Olmert segue o mesmo programa, nao houve alteracao.
 
Mas começou com Sharon? A unilateralidade do Estado de Israel não é nova...
 
O Likud do Netanyahu nao aceita sequer a existencia de uma Palestina e nunca teria saido de Gaza, quando aos Trabalhistas a posicao deles e' formalmente a negocial. Associo a Sharon (pelo menos nas ultimas decadas) o projecto de uma paz ditada unilateralmente.
 
Mas tiveste Barak, Rabin e outros que sempre geriram as coisas da mesma forma (pelo menos no aspecto unilateral).
 
Acho que so o Sharon se comprometeu a uma mapa definitivo determinado por Israel e so por Israel. Os outros sugeriram sempre que so com negociacao se resolvia o problema. Sharon dispensou-a.
 
A política do estado de Israel foi sempre musculada e procurou responder unicamente aos seus intereses. Só talvez no segundo mandato de Rabin (e com as pressões de Clinton) possa dizer que houve "negociação". Mas mesmo ai os palestinianos abdicavam da maior parte dos seus direitos, enquanto os israelitas consolidavam as conquistas feitas.

Obviamente que há diferentes visões do que é possível Israel fazer. Barak sai do Líbano não por desejo de paz, mas sim para acabar um atoleiro. Depois faz com que pareça que seja Arafat que não quis negociar.

Tenho de ir. continuamos depois
 
Enviar um comentário

<< Home


   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt