08 fevereiro 2007

 

Obrigado gripe!


Ele lutava contra uma voz rouca, no limite do seu cansaço. Não estava bem. José Rodrigues dos Santos estava engripado, mas com ética de capitão de navio, não abandonava o posto de pivot do Telejornal. Finalmente, a gripe venceu e nós, espectadores, tivemos pausa daqueles seus ares de rapazola brejeiro em avançada e enrugada idade.

O senhor que se seguiu foi o solene José Alberto Carvalho. E com ele deu-se uma mudança na cobertura da campanha para o referendo. Nos telejornais do José dos Santos, o caso da menina Esmeralda ou reportagens encomendadas sobre a ciência intra-uterina, com muitas fotos e cor, prefaciavam a cobertura da campanha do “não”. Nos telejornais do José Alberto o paradigma é outro. Ontem, vimos o Ricardo Carriço em indignada e absurda afirmação que as mulheres farão abortos como quem lava os dentes, acompanhado pelo hip hop dos pueris “Força Suprema.” Seguiu-se uma rápida entrevista ao desarticulado José Ribeiro e Castro na companhia de uns painéis de letra grossa, que pela luz da filmagem estarão hospedados numa sub-cave. Depois, foi a vez da campanha do “sim” e a voz tranquila e firme de Maria José Alves falou das vítimas do aborto clandestino e da urgência de que os médicos zelem pela saúde das mulheres. Em igual tom de factual denúncia, ainda uma reportagem com o Bloco de Esquerda numa clínica de planeamento familiar numa periferia de Lisboa, onde a médica de serviço, apertada pela massa de doentes, revela que a maioria das gravidezes que acompanha é indesejada e difícil.

Não tenhamos medo da gripe, afinal é o melhor remédio para curar o Telejornal.

Comments:
Humm, não sei se a gripe será factor determinante no tipo de cobertura que a campanha do referendo tem tido. Não notei essa alteração, apenas me parece que na RTP e na 2: se dá bastante mais cobertura ao "não" que ao "sim".

Claro que se pode sempre discutir o tipo de cobertura, mas para mim quando se dá uma reportagem extensa sobre um proto grupo de rap pelo "não" e cerca de 2-3 minutos numa reportagem sobre o Ribeiro e Castro, está-se a dar mais tempo de antena ao "não". A mensagem pode ser uma treta, mas só o falarem mais para mim já tem significado.

Na 2: o sumário de notícias que fizeram ontem à noite tinha 2 notícias do "não" e uma do "sim".
 
Tenho andado à procura do motivo para que a campanha do "sim" tenha sido tão maltratada pelos media. Mesmo nos canais públicos a coisa foi vergonhosa.

Talvez se explique em parte pelos líderes. A RTP2 tem o Jorge Wemans por director, um ultra católico. Já o Rodriques dos Santos parece que simpatiza com a ideia de uma entidade superior/inteligente que criou este belo mundo onde vivemos.

Ao dizer isto não estou a considerar que tenha havido uma mudança significativa com o José Alberto Carvalho. Tinha de se esperar mais tempo. Para além disso, a conferência de imprensa (onde Maria José Alves esteve presente) foi mesmo assim "subalternizada" (na ordem jornalística) pelo insignificante Ribeiro e Castro (que teve uma cobertura inacreditável) e do tio Carriço.
 
Oh forças da negatividade, não contava que a minha observação merecesse escrutínio tão detalhado, queria levar para a brincadeira. Não mereço tanto porque nem quero defender os Telejornais e a comunicação social, nem quero estabelecer essa dúbia (alias, espúria) relação entre pivots e conteúdo editorial.

Mas já que estamos no tema, quero manter que o tempo de Telejornal do Ribeiro e Castro não significa que a TV leva o "não" ao colo. A “objectividade” jornalística é feita de atalhos e superficialidades, portanto chegas-lhe equiparar tempos de reportagem para reclamar neutralidade. Não me custa que ao segundo, as forças do ridículo e do insulto do "não" se arroguem de tanto tempo como os esclarecimentos do "sim". Nisso os jornalistas são talvez mais equilibrados que a Comissão Eleitoral ao distribuir os tempos de antena. Interessa-me mais notar no conteúdo das reportagens e no que as rodeia do que olhar para o cronómetro. E o tio Carriço de ar esgrouviado e olhos muito abertos, a comparar o aborto a lavar dentes não será certamente uma reportagem que favoreça o "não".
 
A maior parte dos argumentos, ideias e personagens são escabrosos. Não é preciso vir o Carriço para tal. Não vejo grande mudança a nível qualitativo. O sim de facto está mais contundente, mas isso nota-se já há algum tempo. Portanto, ou isso é dos teus olhos ou do charme da Maria José Alves.
 
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