13 fevereiro 2007

 

O julgamento


A Igreja Católica, ora como mentor, ora como instrumento, tem desempenhado um papel central neste rectângulozinho desde a sua criação. Século após século agrilhoou os portugueses à subserviência e ao medo. Apesar da sua influência decrescente, continuam a ditar a lei e a consciência em algumas regiões.

A propósito do recente referendo mobilizaram-se e clamaram do alto dos seus púlpitos. Disseram que não, que Portugal não se podia tornar num país de assassinos, que a lei dos homens não se pode sobrepor à lei de Deus (ou da Igreja?). Acusaram mulheres e homens, apontaram o dedo, como eles sabem tão bem e julgaram-nos.

No dia 11 de Fevereiro, a Igreja, com o pretexto de velar pela fé das suas ovelhas, fez em diversas paróquias campanha pelo “Não”. Não é novidade a sua tentativa de influenciar eleições, mas a sua escala e os apelos no próprio dia ao voto em pleno século XXI assumiram proporções inaceitáveis. Esta sua recusa em respeitar regras básicas e na tentativa de manipulação grosseira da democracia (já de si tão maltratada) é vergonhosa.

No dia 11, não votámos apenas a despenalização do aborto e o reconhecimento do direito à saúde reprodutiva por todas as mulheres. Nem a campanha vergonhosa nos telejornais ou a campanha voluntariosa, mas tanta vez desorientada do “Sim”. Porque este resultado também é a recusa dos argumentos crápulas e medievais do “Não, obrigada”, “Assim, não” ou mesmo o “porque não”. A maioria dos Portugueses votou que nem a Igreja nem o Estado por imposição dela tinham o direito de proibir o aborto nem de atirar as mulheres para a clandestinidade.

No dia 11, finalmente chegou a nossa vez de julgá-los.

Comments:
Interessante também é a famosa divisão do país ao meio, geralmente pelo Mondego.

Este tema não é novo e já o li por outros lados: http://ocanhoto.blogspot.com/2007/02/fronteira-imaginria-do-mondego.html

Eu, por mim, acho que esta divisão muito tem a ver com a permanência dos muçulmanos no Sul do país por um bom tempo para além do "nascimento da nacionalidade".

Enveredando pelo determinismo geográfico (afinal de contas, Portugal é o país africano mais perto da Europa), a minha sorte é a minha avó ser algarvia, o meu avô alentejano filho de republicano anticlerical em tempo da monarquia, e os meus outros avós trabalhadores agrícolas da margem sul.
 
Entao esta' nos genes?!
 
Acho muito importante falar-se da Igreja e do seu papel no atraso do nosso pais. O seu poder hoje pode ser menor do que ha 30 ou mesmo 9 anos atras, mas ainda assim continua muito presente. Isso explica com certeza, pelo menos parte, da grande abstencao neste referendo. Continuam a usar o medo e a ignorancia sobre muita gente. E choca-me que durante estes debates e campanhas tao poucas vezes se tenha denunciado o empenho da Igreja na desinformacao e coaccao sobre pessoas, sobretudo em questoes de sexualidade. E' inaceitavel a ausencia de combatividade que tem havido em relacao a este assunto.
 
não está nos genes, está na cultura.

um exemplo breve: numa aldeia do barrocal algarvio, nunca os padres tiveram sucesso e sempre andou a caixa das esmolas vazias. as pessoas respeitavam-no, mas achavam que para falar com Deus não precisavam de intermediários.
mesmo quando as pessoas da terra começaram a migrar para Lisboa, as suas práticas não se alteraram: ir à missa tudo bem, agora confessarem-se tá quieto.
 
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