24 fevereiro 2007

 

Mais com menos


No outro dia, enquanto movíamos imagens entre USBs e discos rígidos e cuidadosamente gravávamos tudo em duplicado para nunca se perder, pensámos – será que esta facilidade e quantidade de registos, vídeos e fotografias não desvaloriza cada uma destas imagens? As fotos, que no passado eram relíquias e tesouros, não se perdem hoje no meio de tanta abundância?

Esta foto por exemplo, não teria sido esquecida se estivesse entre dois gigabites de memória, com mais duas mil outras fotos parecidas?


Mas num desejo de registar relíquias, deixo aqui esta... A minha querida avó Graça, hoje com 91 anos, é a primeira da direita.

A foto foi retirada com muita amizade e admiração dos Olhares da minha prima Alexandra.

Comments:
Querida prima,
A emoção ao olharmos esta foto é mútua pelo imenso afecto que temos pela nossa avó Graça. Fiquei muito feliz por a teres colocado aqui.
Concordo com a tua reflexão sobre a abundância actual de registos visuais versus a exiguidade das relíquias e tesouros de outros tempos. O valor que lhes atribuímos/atribuíamos não é de todo o mesmo.
Mas é impossível travar a inexorável mudança do mundo e da realidade (então no que toca à tecnologia...). É, no entanto, importante intervir nela, como o fazem no vosso blog, ao qual estou atenta.
Parabéns pela tua escrita precisa, acutilante e interventiva.
Muitos beijos com saudades da prima

Alexandra
 
Lindo! Nem de propósito esta postagem sobre o valor da fotografia, já que ando actualmente a estudar este tema...
Será que as fotos de hoje valem menos? têm menos o quê? Mistério?"velhice"?Qualidade?Significado?
É verdade que a abundância retira algum valor, sobretudo técnico, mas a realidade passou a estar muito mais próxima e ao dispôr!Se fosse hoje, a avó teria dezenas de fotos e o problema seria escolher...
Mas a magnífica foto que está presente, foi tirada quando era uma excepção, com pose, mil cuidados, "frisson" pela novidade...
Creio que a fotografia ainda vai passar a ter muito mais valor no futuro....
 
Temendo estar a ensaiar uma pose eruditoide, sugiro sobre a questão da fotografia o livro do Roland Barthes, CAMERA LUCIDA (acho que em Portugues foi traduzido como CAMERA CLARA).

Concordo com a Alexandra que, alem da semiotica da fotografia (que o Barthes estuda), há também uma sociologia do seu uso. A foto antiga tem o mistério que nasce da sua descoberta, da surpresa do bau que se abriu. A foto moderna, mais abundante, talvez precise de outros rituais valorativos, talvez a foto tornada pública, online, comentada, seja uma estratégia de valor.

E nesse caso, com ironia, esta foto é pós-moderna, é antiga e nova.
 
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