23 fevereiro 2007
José Afonso
Recordo os discos que se ouviam em casa. Sabia algumas músicas (ou uns pedaços) de cor, virtude das longas viagens para o Algarve em que se cantava para esquecer o calor e almejar o destino que nunca mais chegava.
Ao funeral, houve lá em casa quem fosse mas não me deixaram ir. Não que eu tivesse noção do que era. Fiquei a saber quando perdi a vista ao mar de gente que passava lá em baixo na rua, o caixão levado em ombros com um pano vermelho por cima. Sei agora que eram 30 mil.
Ficou também a memória do Círculo Cultural de Setúbal dos anos 80, onde soube mais tarde que também José Afonso tinha participado. Era agora o tempo dos “tempos livres” para os miúdos, e das aulas de alfabetização para os adultos.
Depois vieram outros tempos. Outras músicas se aprenderam de outros músicos, mas também as do José Afonso. Nos anos 90 reavivou-se a memória: os Filhos da Madrugada cantavam José Afonso.
E aí reaprendi. As músicas de intervenção, a música de protesto feita música tradicional portuguesa. As entrelinhas, a revolta, a senha da revolução, a esperança da independência das ex-colónias (“veio da mata, um homem novo do MPLA”). E em 1983, no concerto do Coliseu organizado para arranjar fundos para os tratamentos da doença degenerativa de que padecia, cantou de novo.
Morreu de pé, como as árvores, mas ainda faz muita falta.
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Uma coisa engracada que nao sabia -- a Grandola Vila Morena foi gravada num patio em Paris. Com gravilha no chão, o Ze Mario Branco e outros cantavam, juntando-se ao Zeca Afonso. Em grupo, como nos coros alentejanos, arrastavam os pes e cantavam agarrados uns aos outros. No chao puseram 4 microfones para se ouvir os passos na gravilha, isto 'as 3 da manha para nao haver barulho na rua. E assim gravaram a cancao.
soube hoje que nunca vi o funeral passar lá em baixo na rua. não passou por aqui. mas as ruas de setúbal estavam tão cheias de gente, e a minha casa era mesmo ao lado da escola onde esteve em câmara ardente, que ficou-me na memória como se tivesse passado aqui.
também não me lembrava que nos tempos livres do Círculo Cultural de Setúbal nos levaram à rua nesse dia. para sabermos, para vermos. mas que as pessoas eram tantas, a confusão era tanta que voltámos todos para dentro outra vez.
vieram de todos os lados. de setúbal e de lisboa. de coimbra. e de muitos outros sítios apareceram pessoas, algumas delas sozinhas.
vinham como podiam pois não podiam faltar.
também não me lembrava que nos tempos livres do Círculo Cultural de Setúbal nos levaram à rua nesse dia. para sabermos, para vermos. mas que as pessoas eram tantas, a confusão era tanta que voltámos todos para dentro outra vez.
vieram de todos os lados. de setúbal e de lisboa. de coimbra. e de muitos outros sítios apareceram pessoas, algumas delas sozinhas.
vinham como podiam pois não podiam faltar.
Participei na costrução do Círculo Cultural de setubal desde 1969 ( ainda na 5 de outubro). Na secção escolar, no teatro, nos concertos, no cine-clube e na actividade política associada. Fui um dos que dei o pontapé para ocupar a sede da Rua Detrás da Guarda. A partir dos anos 80 perdi o rasto ao CCS. Seria importante reconstituir a historia mais recente
JM
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JM
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