10 dezembro 2006

 

Não me dêem história, quero justiça


Morreu o Pinochet. Mas antes de morrer o General, velhinho, acarinhado pela família, médicos e cónegos, morreram esquecidos milhares de jovens chilenos sem título. O velhinho morreu numa cama lavada e alva, rodeado da mais recente tecnologia médica. Os milhares morreram torturados, na companhia das máquinas da “parrilla”, com choques eléctricos nos lábios e genitais.

Sem excepção, ninguém duvida dos crimes cometidos pelo velhinho (ver aqui uma breve lista). Aos assassinatos em 1973 dos apoiantes de Allende, juntam-se a operação internacional de terror apelidada de “Condor”, e mais ameaças e perseguições que se seguiram por duas décadas até que Pinochet aceitou eleições e perdeu. O assassino e ladrão que roubou milhões ao Estado chileno, escapou a todos os tribunais. Os seus crimes compraram-lhe imunidade.

Todos os obituários reproduzem esta hedionda lista de desumanidade. E o único argumento abonatório que têm a acrescentar é o sucesso económico chileno, alegado afilhado das políticas liberais impostas contra a esquerda sindical, partidária e universitária. Quando a ilusão liberal se revelar no Chile, como já o fez na Argentina, não restará nada para salvar a memória do velhinho. Mas nesse futuro, os crimes estarão mais distantes, e menos testemunhas a quem doa a ausência da vítima. A justiça histórica, a dos livros lidos nas escolas, é uma insonsa encenação sem revolta e que não move.

Justiça é urgente agora. A justiça faz-se quando o poder é derrotado, com o crime desfeito nas suas consequências. Pinochet morreu no santuário da imunidade que comprou com terror, a gozar a sua vitória final quando afirmou: “que não guardava rancor contra ninguém, e que amava o seu país acima de tudo.” A raiva não se pode suspender para ser vivida adiada.

Comments:
E é de referir também o papel do "paladino da democracia e da liberdade" nesta história. O Chile é um dos maiores exemplos de como os EUA se movem apenas por interesses e que o tal discurso da liberdade é oco. Pinochet fez o que fez e conseguiu o tal sucesso económico porque estava sob protecção dos EUA. Como disse Kissinger (citado indirectamente num texto recente aqui n'Obitoque) "we have no friends, America only has interests".
 
Sim, esse assassino e a CIA, fizeram o 11 de Setembro que ninguem se lembra, o de 73. E' a justica que tarda e falha!
 
Tendo morrido sem pagar o que merecia pelos crimes que cometeu e mandou cometer, Pinochet morreu!!! Relembre-se os ques morreram às mãos do carniceiro e faça-se festa como se fez no Chile.

De seguida, continue-se a exigir justiça.
Afinal, Pinochet morreu, mas muita da sua herança e correligionários continuam por ai...
 
Este comentário de A. Cabral está muito bom e muito bem escrito. O que ficará na história nunca chegará para condenar Pinochet e dar a verdadeira dimensão do horror que ele provocou. Haja justiça! E que não se baixe as guardas aos que pactuaram e pactuam com Pinochet. Veja-se os comentários desavergonhados dos seus familiares.
 
Só um reparo, não ao texto em si que subscrevo, mas em relação ao comentário do Mbeki: É um facto que durante décadas os EUA apoiaram regimes fascistas, violentos e corruptos, não só na América Latina mas um pouco por todo o Mundo, (vide o Vietname do Sul). No entanto é necessário não esquecer um dado importante: vivia-se a guerra fria e do lado de lá a URSS fazia o mesmo com regimes totalitários comunistas (vide o Afeganistão).
 
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