16 novembro 2006

 

O Friedman quinou


No Público o primeiro comentário que suscitou dos leitores foi: “Seria das personalidades que se eu pudesse gostaria de cumprimentar porque, estou convicta que o filme recente "Uma Mente Brilhante" é-lhe totalmente dedicado”. Para quem se confunde, convém esclarecer que o gajo da Mente Brilhante era o John Nash e não o Milton Friedman. É difícil distinguir os economistas! São todos assim cinzentos, de lacinho conservador ao pescoço, a papagueiam nessa língua cifrada de taxas de juro, capitalização, liquidez, elasticidades.

Há quem biografe o Friedman como um grande intelectual inovador, de histórica importância. A notícia do New York Times reproduz esta historieta e acrescenta generosas doses de “name dropping”, talvez porque rodear a personagem de outras de renome lhe confira valor. E repetem-se muitos erros, a alegada clarividência de Friedman é falsa, o fenómeno da estagflação (recessão da actividade economica acompanhada de inflação de preços) era discutido desde o final dos anos 50. Como é falsa também que a teoria monetarista tenha servido de guia para a política económica Americana. Foi só mesmo seguida pelo academicamente acossado Alan Walters, do governo Tatcher.

Friedman representava, era um símbolo, um signo. Era a autoridade académica apropriada por um movimento que não começou nem terminará na academia, um liberalismo quase-libertário, da direita, que incansável tenta reconstruir o mundo. Neo-liberalismo, neo-conservadorismo, monetarismo, austrianismo, todos os nomes vai usando e abusando. É a Guerra-fria continuada. É a luta de classes sempre a assumir novas formas, em re-invenção cultural.

Morra o Friedman, morra, pim…

Comments:
que a terra lhe seja pesada
 
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