03 outubro 2006

 

Que fazer?


São fenómenos da televisão que não nos escapam mas que nos tocam de uma maneira ou de outra. Seja pela fúria dos fãs adolescentes e pré-adolescentes que vêem os Morangos com Açúcar, seja pela transversalidade apregoada da Floribella na sociedade portuguesa.

Toda a gente sabe quem são, mas poucos sabemos lidar com as suas consequências.

Na primeira, assenta a passagem de informação para ensinar as criancinhas a pensar. Nos Morangos com Açúcar, são os rapazes que só são rapazes se fizerem comentários rebarbados sobre raparigas em bikini, e as raparigas que ditam a moda e os comportamentos tantas vezes tão fotocópia da mais mexicana das novelas mexicanas. Na Floribella, são os bons contra os maus, estes ricos e os primeiros pobres mas felizes (já ouvi isto em qualquer lado…, pré-1974, diz-vos alguma coisa?)

A segunda é este dissipar de fronteiras entre realidade e ficção. Os DZRT são uma realmente banda ou apenas parte da novela? E o FF? Quem é que fala à pequenada, a Floribella ou a Luciana Abreu? Como ver a possibilidade que os miúdos têm de “falar” com os seus heróis via Internet (blogues, e-mails)?

Eu tenho uma prima com 12 anos, que até é uma miúda inteligente. Mas, das poucas vezes que estou com ela, é um esforço enorme tentar que ela perceba que este novo modo de captar audiências juvenis não é benigno. Quando ela me disse que uma amiga falou com a Floribella por e-mail, e eu lhe expliquei que não é a Floribella que fala por e-mail com os fãs mas a Luciana Abreu e que certamente até era alguém que o fazia por ela, ela ficou muito chocada e a primeira reacção foi dizer que se calhar a sua amiga estava só a “meter inveja”. Nem lhe passou pela cabeça que nem tudo o que lhe passa à frente é verdade!

A formatação da miúda é tal que acabou a dizer-me isto: “Tu às vezes és mesmo esquisita!”. Antes seja, pensei eu, antes seja…

Comments:
Qual o segredo da receita que tornou a série Morangos com Açucar, o sucesso que é hoje?

1. Temas actuais - Pela primeira vez na televisão Portuguesa foi feito um esforço para recriar um ambiente escolar exacto e não o que passa nos telejornais.

2. Diálogos comuns em linguagem comum - Apesar de ser sempre em Português correcto e sempre correctamente pronunciado, foram introduzidas passagens, vocábulos e expressões comuns dos jovens. De uma forma que os próprios jovens ouvem e identificam-se com as palavras.

3. Música e movimentos jovens - A criação e inclusao de música que de facto é moda, em muito contribuiu para o sucesso da série. Até este momento, a cada telenovela tentava-se criar uma moda nova. Nesta foi feito o inverso. Foram incluídos temas vulgarmente ouvidos e foi criado movimentos (como os DZRT) que reproduzem os temas e os ritmos que são ouvidos, em linguagem acessível.

4. Open Casting - Esta foi provavelmente a coisa mais arriscada que foi feita nesta série até ao momento. Abertamente criaram castings públicos em vez de procurar pessoas já com formação, como de hábito.

Estas entre outras coisas tornaram a série Morangos com Açucar o mais fenómeno de popularidade da televisão de hoje em dia. E, segundo os índices de share, estão aí para ficar. Muitas foram as iniciativas paralelas que surgiram: bandas musicais, livros, merchandising, toda uma indústria que cresceu paralela ao fenómeno.

O que ainda hoje continua a mover e a motivar é o facto de que ainda hoje os temas continuam actuais e a massa jovem continua a identificar-se com o enredo e com as personagens.
 
Concordo com quase tudo excepto com o primeiro ponto. A escola que é representada na série está muito longe da escola comum. è um colégio particular, só acessível a quem tem dinheiro para tal, só para meninos e meninas com gostos bem caros.

Isto leva-nos aos próprios jovens. Têm patins em linha, fazem kitesurf, aparentemente têm carregamento ilimitado do telemóvel, ficam várias semanas das férias longe de casa dos pais... este não é o país real. Pode ser o país com que os miúdos sonham, mas não é nada real...
 
E se é disto que o povo gosta então é disto que se dá ao povo? Compreendo o sucesso, mas é igual ao das novelas e dos big brothers. Com o perigo de ser destinado a seres que não têm uma consciência crítica bem cimentada. Compreendo as preocupações da Feminine.
 
Humm... narrativas mediáticas...

Não sendo propriamente o meu forte, aqui vai: Discordo em absoluto do Viajante. A escola apresentada nos Morangos nada tem a ver com a escola normal: é a escola dos meninos betos só com merda na cabeça. Os temas actuais idem: por muito importantes que os namoricos sejam na adolescência, há outros problemas, drogas, violência estudantil, mau desempenho escolar, aspirações de futuro, etc, que não são abordados, ou se tal acontece acontece pela rama e com recurso aos esteriótipos mais banais.

Porque é que os miúdos se identificam com a série e o seu sucesso: porque ela lhes dá aquilo que não são nem nunca poderão ser: jovens todos eles lindos, todos eles bem sucedidos, todos eles popstars em potência, sempre com namoradas (os) lindas e sem problemas de dinheiro.

Claro, e aí sou forçado a concordar com o viajante, tudo isto feito com impecável gabarito técnico e, até certo ponto, de guião e de interpretação. Vende? é claro que vende, mas sabemos bem que, para o grande público,o mínimo denominador comum é sempre o mais adequado. pena é que, se às tvs privadas outra coisa não se possa exigir, a tv pública não ofereça alternativas de respeito, bem pelo contrário,proporcionado,no mesmo horário,escarros televisivos como "o preço certo em euros" ou a Eclésia na 2.

Em resumo, produtos como os Morangos ou a ainda mais inenerrável Foleirabela, enchem a cabeças da nossa criançada com lixo e vácuo. Agora, determinar até que ponto estes modelos influenciam seriamente a formação cultural dos sujeitos alvos permanece a questão central de todas as narrativas de Media, sem que uma cabal resposta tenha ainda sido encontrada. O futuro dirá.
 
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