21 setembro 2006

 

Volver (2006)


Um frenesim de gestos femininos, decididos e económicos. Uma legião de mulheres que escova as lápides de um cemitério num exercício que é menos de emoção que de trabalho. Sabemos de seguida que na aldeia deste cemitério os homens morrem cedo. Almodôvar encena em Volver um mundo de mulheres, viúvas de abandono ou morte.

O feminino não é o negativo do masculino, e estas mulheres não são prisioneiras dos ausentes pais e maridos (neste filme não há filhos). Os homens que vão episodicamente invadindo este enredo são incestuosos violadores, para serem pelo espectador sumariamente condenados. Assim, para estas mulheres o ser masculino é jamais objecto de desejo, se tanto nutre-se por este um misto de ódio e pena. Sobretudo, o homem é ausência e indiferença.

Almodôvar não pretende explicar porque os homens não têm lugar neste espaço de mulheres. Será que todo o desejo masculino conduz ao estupro? Será que é porque os homens não tentam visitar o mundo feminino, preferindo manter uma simétrica independência? Ou será porque as mulheres os excluem, só se servindo deles por pragmática necessidade?

A questão do “feminino” e como se constitui, com ou sem o “masculino”, incita a reflexão, mas não é o melhor comentário que se pode fazer a este filme. O grande mérito de Volver está no retrato afectivo que oferece desta tribo de Amazonas. Estas mulheres nutrem uma solidária ternura entre si, oferecendo-se umas às outras sem reservas ou maquinação. Esta sólida união vence a avalanche de desafios que lhes caiem sobre o colo. O restaurante que é erguido da penúria com trabalho e solidariedade. A mãe que se sacrifica (“morrendo”) como enfermeira primeiro para uma irmã, depois para uma vizinha. Esta é uma união que rompe os mal entendidos e os segredos que o tempo vai depositando. Estas são mulheres que assassinam por justiça e em que não lhes pesa fardo da culpa.

São elas uma enorme vontade que irradia em sorrisos e lágrimas: “The sisterhood is powerful.”

Comments:
Mais uma obra prima deste grande Sr. que é Pedro Álmodovar, a sua forma de interpretação dos sentimentos, dos afectos, das motivações, do mundo feminino....é deliciosa!
 
Amigo Cabral

Lá na minha chafarica escrevi um artigo sobre pornografia que talvez te interesse, dado ser um tema sobre o qual já te debruçaste (salvo seja) em alguns posts.

Abraço.
 
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