27 julho 2006

 

Exterminadores implacáveis


Perante a barbárie perpretada por Israel, algumas considerações se impõem.

O começo
Querem fazer-nos crer que o início da mais recente crise no Médio Oriente assenta no rapto de soldados israelitas pelo Hezbollah. No entanto, a crise começou anteriormente quando a comunidade internacional não aceitou e boicotou os resultados das eleições palestinianas, com a subida do Hamas ao governo. Ao cerco montado por Israel e pela maior parte dos governos (através do isolamento diplomático, financeiro…), o inevitável aconteceu. Ao ataque a uma instalação militar por alguns militantes palestinianos, Israel responde com bestialidade, matando (já vão em 128 mortos) e prendendo em larga escala (incluindo inúmeros deputados e outros representantes oficiais). Perante o desinteresse mundial, inclusivé a inacção árabe, o Hezbollah responde à ofensiva israelita.

Vítimas e agressores
Israel em diversos canais é considerado a vítima sofredora. Um punhado de judeus perante a massa muçulmana, sedenta de sangue e terra. Pois este Estado-vítima construiu uma sociedade que em muito relembra o Apartheid (mesmo a estratificação dentro dos judeus é bastante estanque), estima-se que possui duzentas ogivas nucleares, produz e exporta tecnologia militar e assassina quem bem entende pelo mundo fora e especialmente na Palestina e agora no Líbano.

O conflito no Líbano reflecte o (des)equilíbrio das forças em presença: das 404 vítimas mortais libanesas contra as 42 israelitas, mais 900 feridos libaneses; de edifícios, portos, pontes e estradas tudo destruído, incluindo tambem centrais eléctricas e televisão vs. pequenos estragos; centenas de toneladas de bombas vs um punhado de rockets. E que dizer dos 600.000 refugiados?

Israel desrespeita a história do povo judeu que tanto sofreu. A presa transformou-se em predador e dos mais sanguinários. Um povo do qual durante muito tempo surgiram pessoas bastante progressistas, e agora na sua grande maioria é o garante de um Estado opressor de milhões.

Os media
O controlo dos media é fundamental e as máquinas de propaganda funcionam de ambos os lados, mas também aqui as forças são desproporcionadas. A nível nacional, são muitas os personagens como José Manuel Fernandes, Pacheco Pereira, Vasco Graça Moura ou Francisco José Viegas que defendem Israel de todas as maneiras possíveis. Também o discurso de Márcia Rodrigues de se referir à destruição provocada pelos bombardeamentos israelitas de alvos militares ou outra linguagem militar, “neutra” e inodora revela as preferências. Há algumas excepções, por exemplo José Manuel Rosendo ou Paulo Camacho que, perante o horror, denunciam a prática do terror.

Dar uma cara às vítimas é uma das estratégias preferidas. Há a entrevista a família de soldado israelita morto. Seria interessante se se entrevistasse as famílias libanesas atingidas na proporção das vítimas mortais. Tocou-me particularmente o drama do bebé prematuro israelita nascido numa sala blindada para se encontrar a salvo dos rockets. Só me conseguia imaginar/lembrar dos libaneses (e palestinianos) a viver sem água, luz, esgotos, estradas… Que será feito dos bebés prematuros libaneses?

Ha ainda um cultivo da semelhança do mundo ocidental com Israel, contra os bárbaros muçulmanos. É natural que Bush demonstre o seu apoio a Israel e Aznar venha dizer que ache que Israel pertence à nossa civilização. Afinal, para além da propaganda, Israel tem as mesmas práticas assassinas usadas pelas potências lideradas por aqueles, indo mesmo mais longe do que eles.

Comunidade internacional
A reacção da comunidade internacional só vem reforçar que também nos países há filhos e enteados. Após a preocupação de retirar cidadãos nacionais, deixa-se agora o resto à matança.

Quando muitos referem o desarmamento do Hezbollah por resolução da ONU, só nos resta a certeza que não há limite para a distorção ou manipulação dos factos. Convém relembrar que Israel é um dos maiores (senão o maior) incumpridor de resoluções da ONU e mesmo assim muito poupado por vetos constantes dos EUA. Estes reclamam um cessar-fogo urgente, mas esclarecem que não é imediato e colocam condições inaceitáveis. O apoio dos tradicionais aliados abrange desde a presidenciável Hillary Clinton ao exterminador implacável Schwarzenagger. Os EUA inclusivamente acelararam o fornecimento das bombas que, estando no Qatar, estavam destinadas ao Iraque, mas que agora vão matar no Líbano.

Gostava ainda de denunciar o papel vergonhoso das élites árabes corruptas que assistem nos seus palácios e não fazem nada. Sentados no petróleo e viciados em luxos doentios voltam a mostrar-se incapazes de contrariar a máquina israelita.

Comments:
resta acrescentar que a zona no norte de israel onde o hezbollah capturou os dois soldados israelitas é considerada pelo líbano como zona ocupada por israel.

quanto à concentração de ontem em frente à embaixada de israel em lisboa, reuniu cerca de 600 pessoas (de acordo com o teletexto da RTP, se não me engano) o que é um número bastante porreiro se tivermos em consideração a época do ano.

a atitude da embaixada deixa muito a desejar mas nada a que não estejamos habituados: ninguém esteve disponível para receber em mão a carta que tinha sido preparada pela organização da manif.
 
Para quem mata civis como Israel faz, a atitude da embaixada é para o lado onde durmo melhor...

Samir Machel
 
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