22 junho 2006
Por Ana Sá Lopes
“Havia um mistério na crise timorense: porque é que os revoltosos prosseguiam armados? Porque é que o"comandante" Reinado descansava em sossego com a protecção australiana? Ontem, o brigadeiro Slater, número um da força australiana, veio esclarecer tudo: as tropas não desarmam os rebeldes porque Xanana não lhes pediu. Simples. Quando Xanana lhes pedir, estão prontos. Ou, nas palavras do brigadeiro, "quando chegar o tempo certo".
Aparentemente, segundo Slater, o Presidente timorense está a tentar a reconciliação entre as partes. Com 2000 homens sob o seu comando, Slater diz que não arrisca: "Se cada um actuar independentemente e fizer algo que não seja aceitável para todas as partes corremos o risco de provocar maior turbulência."
Enquanto isto, "os nossos rapazes" da GNR estão no epicentro de um turbilhão de consequências imprevisíveis. Comandados por António Costa (a sério, a sério), apresentaram-se em Díli sem qualquer garantia e foram tratados pelos australianos com a mesma simpatia com que os analistas de Camberra avaliam o papel de Portugal em Timor. Igual a zero. Foram, depois, acantonados pelos australianos em Comoro, bairro periférico que une Díli ao aeroporto. António Costa, comandante das tropas, já teve a primeira derrota no terreno.
Portugal prepara-se, agora, para uma derrota diplomática: pode ser que, com a alegria do Mundial e o aumento das exportações, a coisa passe despercebida. Na terça-feira, nas Nações Unidas, a Austrália apresentará o seu projecto de controlo do futuro de Timor que, aparentemente, tem a bênção do ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, José Ramos-Horta. De Xanana nada se sabe, nos últimos tempos: mas todos os seus passos (nomeadamente os da sua mulher, Kirtsy) não iludem que concorda com a aliança. Alkatiri é o monstro que, até agora, nem Xanana, nem Ramos-Horta (todos os dias esclarece estar pronto para ser primeiro-ministro), nem o Governo australiano conseguiram ainda erradicar. Mas, na ONU, o papel decisivo será dos EUA: duvida-se que a diplomacia americana fique ao lado de Alkatiri. Se for aprovado o plano australiano para o controlo de Timor, a imagem dos GNR a patrulhar Comoro é uma metáfora. Não é grande coisa, mas é uma metáfora.”
Ana Sá Lopes, DN de 11 de Junho
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