06 junho 2006

 

Livros - De sol a sol


Em tempos de livros, convém falar de livros. Com mais uma edição da feira do livro a decorrer, com bastantes preços altos e com uma oferta duvidosa (o horror de livros da “moda” dos paranormais a sei lá mais o quê), trago-vos uma alternativa barata.

“De sol a sol. O Alentejo dos nossos avós” é uma iniciativa de estudantes do 9º ano e de alguns professores da Escola Secundária D. João II de Setúbal. Os 150 estudantes recolheram os testemunhos de “70 mulheres e homens que nasceram ou viveram no Alentejo entre 1920 e 1974 e que “emigraram” para Setúbal, onde residem, alguns deles em bairros à volta da nossa escola, outros ainda em terras alentejanas.” O livro abrange múltiplas dimensões da vida de então. Da habitação e vestuário aos afectos, da saúde à escola, das condições de trabalho à repressão pela ditadura. Sistematizando nos diferentes aspectos, fornecem exemplos baseados em testemunhos concretos. O livro custa 5 euros. De momento, creio que está esgotado, os seus 1200 exemplares (há um 1 manhoso que levanta a dúvida entre 1200 e 200, embora faça mais lógica os 1200) voaram.

Das suas vidas duras, mas também da sua força de sobrevivência e de luta gostava de destacar umas histórias. Da posse de apenas um conjunto de roupa a outras situações, o calçado é paradigmático: “Eu morava longe. Quando me deslocava à vila levava os sapatinhos num saco e um paninho molhado. À entrada da vila, limpava os pezinhos com o paninho e calçava os sapatos. À saída, voltava a descalçá-los e punha outra vez os sapatinhos dentro do saco para não os estragar.” Quanto à alimentação, nos campos “eram distribuídas aos trabalhadores três refeições. A primeira, o almoço, acontecia por volta das nove da manhã, depois, por volta da uma da tarde, o jantar e para terminar a ceia, dada entre as sete e oito da noite”. Em casa, dependia das disponibilidades de cada um. Por fim, gostava de destacar o contributo de um engenheiro florestal que aponta a degradação e erosão dos solos e a sua perda de produtividade como consequência da Campanha do Trigo.

Há ainda pontos menos conseguidos. Um primeiro refere-se ao prefácio pomposo de José Luis Peixoto, especialmente os dois últimos parágrafos. Um segundo refere-se a preocupação constante de distinguir o pré e pós 25 de Abril. Compreendendo o contexto do livro, bastante ligado ao estudo da história recente de Portugal (e da respectiva disciplina do 9º ano), e concordando em bastantes aspectos, a justificação parece de quando em vez obsessiva. Com a inevitável falta de análise complementares, poderá por vezes ser interpretada como “Que grandes avanços fizemos nós.”. Eu adicionaria “Que avanços ainda maiores poderiamos ter feito”.

Comments:
Parabéns pelo vosso trabalho.
 
Se a malta da turma 9º A ainda andam por ai gostava de saber mais das vossas impressões. O que vos surpreendeu mais, o que marcou mais? Projectos para o futuro?
 
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