19 junho 2006

 

Lacerante


Uma expressão ecoa pela minha mente nestes últimos dias: “A pornografia é a teoria, a violação é a práctica.” Será por conta do meu crânio oco, que esta verdade me persegue? Será a ferocidade desta afirmação que me seduz?

Comments:
onde é que queres chegar, cabral?
 
A minha ambivalencia soou a ambiguidade e confusao.

Como explicar que uma frase "nao nos saia da cabeca."? Sera (1) porque nao nos convence mas nao sabemos como reagir, ou (2) porque a expressao nos seduz? Sera que a repetimos na mente para a negar ou para a aceitar? Ambos...
 
já agora, onde é que foste buscar a frase? talvez percebendo o contexto se perceba melhor onde se quer chegar.

de qualquer maneira, e numa primeira leitura, discordo que se ponha pornografia e violação no mesmo cesto. uma não é a prática da outra. pornografia é a representação escrita ou gráfica do acto sexual. violação é um acto sexual não consentido.
 
A frase e' uma maxima muralista do movimento feminista, associada a Andrea Dworkin.

A ideia e' que a pornografia por ser "representacao" transporta mais significado que a descricao neutra do acto sexual. O sexo pode ter muitas formas, muito rituais, muitos significados, a pornografia escolhe e publicita algumas dessas opcoes representativas, propoe narrativas emocionais e sexuais.

A pornografia que Dworkin ataca representa a mulher como ser passivo, sempre aceitante e submissa ao desejo masculino. O homem que aceita esta "teoria" deseja um sexo de submissao, que so e' completo com uma dose de humilhacao e de abuso. Mas esse homem encontra na realidade uma mulher muito diferente. As mulheres reais tem desejo autonomo, e nao se submetem, nao se humilham. A solucao para realizar o desejo masculino como submissao do outro, seria assim a violacao no seu sentido mais global.

Empiricamente desconheco se ha associacao entre pornografia e violacao. Para confirmacao empirica ha outras maximas: "A pornografia e' a teoria, a masturbacao e' a practica."

Havera pornografia democratica? Havera representacao do sexo que seja libertadora da mulher? E' coisa que nos faz falta, porque se vamos perdendo o pudor de falar de sexo, ainda temos muitos outros pudores por destruir.
 
a pornografia nem sempre mostra a submissão feminina. embora, seja verdade que grande parte dela reflete isso mesmo.
por outro lado, as mulheres tambem tem desejos.

no outro dia estive a ter uma conversa sobre a diferença entre um "one night stand" e pornografia ou prostituição.
a coisa não ficou muito clara, cada um continuou com a sua maneira de pensar.

de resto, a forma como encaramos o sexo e tudo o que envolve é algo muito pessoal.

"Havera representacao do sexo que seja libertadora da mulher?"

pois, isso depende, o que considera uma representação libertadora da mulher.
por exemplo, a mulher como dominadora?
 
A pergunta e' dificil. E nao tenho resposta.

Pede um resposta de "possibilidades", daquilo que pode ser mas ainda nao existe. O que temos e' sobretudo representacoes distorcidas e preconceitos.

Em Portugal quando se fala de sexo fala-se de forma clinica, o que e' um modelo facil de nao chocar os pudores catolicos. Mas ha outras vozes que nos dao pistas sobre o que "pode ser", a escrita e as vidas de feministas e socialistas, por exemplo a Germaine Greer.

O desejo feminino pode ser dominador, tal como e' o do homem. Mas parece-me mais saudavel construir simetria. Se vamos combater a submissao sexual nao vamos so vira-la de patas para o ar, vamos nega-la de todo. Um sexo menos objectificado, mais emotivo, menos dirigido, mais imaginativo.
 
Teoria, teoria, teoria...
 
antes foder sem pensar nao e'?
 
Isso não sei amigo, eu gosto muito mesmo é de foder, claro vou tomando as minhas precauções.
 
E isso de me pôr a pensar na morte da bezerra em pleno acto, não, isso é que não, foder e pensar ao mesmo tempo, não.
 
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