05 junho 2006

 

Fascistas tout-court


Nos últimos tempos temos visto um recrudescer de uma direita mais direita e perigosa. À política “pragmática” do centrão que vai liberalizando a economia como pode, estes ideólogos de direita reclamam e exigem mais. Alguns saídos de debaixo das pedras, outros que vão mostrando a sua verdadeira cor, tentam construir um espaço à direita. Mais que a nível eleitoral, preocupa-lhes a criação de um viveiro prolífico que acabe por obter a hegemonia face à crise do centrão. A revista Atlântico é um dos seus expoentes máximos e entre eles encontram-se José Manuel Fernandes (mais ou menos disfarçado), Rui Ramos, Helena Matos entre muitos outros. Tenho seguido uma outra figura e os seus artigos com desinteresse, mas desta vez tem direito a destaque. Chama-se Luciano Amaral e é professor universitário. Na sua crónica de 25 de Maio discursa sobre a ditadura em Portugal, quando é que esta começa, e por aí fora, no seguimento de uma longa polémica académica. Segundo ele o 28 de Maio de 1926 não foi o começo da ditadura. Deixo-vos com algumas das suas pérolas. Gosto particularmente do seu conceito de “eleições limitadas” durante a ditadura.

“o mais interessante acerca do 28 de Maio foi a adesão quase consensual que ele suscitou então, da esquerda à direita. Para entendermos isto, temos de perceber duas coisas. Primeiro, que ele não deu origem imediatamente ao Estado Novo, mas a um regime que ficou conhecido como Ditadura Militar. Acontece que a ideia de uma ditadura que pusesse termo ao domínio quase ininterrupto do Partido Republicano Português desde 1910 era das mais partilhadas na época. Temos de entender, depois, que a I República nunca foi uma democracia (apesar de lhe preservar a forma), mas correspondeu sobretudo ao exercício do poder por uma classe política que declarou guerra à sociedade tradicional portuguesa e governou com uma mistura explosiva de violência de Estado convencional e violência de rua às mãos de gangs políticos a quem a rédea era deixada solta.

Como nota Rui Ramos, num excelente ensaio sobre o 28 de Maio na revista Atlântico deste mês, a ideia original da ditadura era, para a maior parte dos seus apoiantes, cumprir a parcela consensual do programa da República e que ela não fora capaz de executar: equilibrar as contas públicas, desenvolver o País, difundir a educação e restabelecer a autoridade do Estado.(…) Só seis anos depois do 28 de Maio (em 1933) é que nasceria o Estado Novo, resultado do confronto no seio da Ditadura e que acabou por representar uma tentativa de conciliação entre todas as facções. Muitos republicanos instalaram-se plenamente no Estado Novo, porque a forma republicana do regime foi mantida e porque a Constituição de 1933 manteve nominalmente os princípios demo-liberais. Muitos simpatizantes do fascismo integraram-se plenamente no Estado Novo, porque o regime também assumiu em parte um aspecto activista de transformação da sociedade e repressão violenta do comunismo. Daqui resultou um animal estranho, nem bem fascismo, nem bem demo-liberalismo - havia eleições, mas eram muito limitadas; havia um Parlamento, mas estava completamente subordinado ao poder executivo; e havia o mundo arbitrário e fora da lei dos "crimes políticos". Mas o grande objectivo do Estado Novo foi o de aplicar o tal programa modernizador da Ditadura.

Nem a Ditadura nem o Estado Novo interromperam a democracia em Portugal. Apenas substituíram um regime terrorista e que nunca conseguiu encontrar um ponto de equilíbrio por um autoritarismo formalizado, o qual nem sequer impediu grande número de adesões, da esquerda à direita. É por isso que o regime de 1976 herdou dele mais do que julga. Afinal, o 25 de Abril foi feito por soldados com brilhantes carreiras militares e políticas no Estado Novo. José Saramago disse há uns anos que estávamos hoje na mesma situação em que estávamos antes do 25 de Abril. Em certa medida, teve razão. Para quem, em 1974-75, quis instaurar o comunismo, o que existe não pode deixar de ser mais ou menos o mesmo (o "fascismo societal", do prof. Boaventura Sousa Santos). Mas quem atribui valor aos mecanismos formais demo-liberais, percebe como isto que existe é bem melhor, mesmo se não tenha feito completa tábua rasa do que existia e nele tenha em parte a sua origem.”

Comments:
Este jovem revisionista e' docente na Faculdade de Economia da Universidade Nova. As credenciais de historiador sao as de um cliometrista daquele que mastiga series cronologicas em busca do mitico TFP (total factor productivity). (E' tb contribuinte ao afamado blog da direita dura: oacidental)

Esta incursao em historia social assenta no "liberal" disferir da confusao formal. O Estado novo e' "conciliador", a Primeira Republica e' "terrorista" e dominada por "gangs politicos". Os crimes do Estado Novo eram do dominio arbitrario, uma distincao que so' existe na cabeca demente deste "historiador".

Que a historia merece multiplas interpretacoes e debate nao pode estar em causa, mas ha argumentos (e nao sao muitos) que sao simplesmente falsos. Dizer que o Estado Novo era uma forca modernizadora e' um desses factos. O programa social do Salazar era a catolizacao do pais, agriolhada em paternalismo, e corporativismo. A politica economica do Professor era a logica retraccionista do merceeiro. E assim Portugal perdeu os anos dourados do capitalismo, enquanto a Europa vivia em afluencia e Estado Providencia, os portugueses saltavam fronteiras para desertar a miseria social. Do seu progresso Dr. Amaral nao precisamos.
 
A que se deve a sua admiração por Salazar?

Milhões de portugueses estiveram com esse homem, à excepção de uma pequena minoria. Salazar não era como estes de agora, que se encarrapitam todos para lá estar meia dúzia de meses. Ele não era nada democrata. A democracia quer dizer que o maior número tem razão. Alguém acredita nisto? Neste país de analfabetos, o maior número é de primatas e são eles que mandam.
 
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