06 junho 2006

 

A escola de competências


Navegando por terras dos companheiros do Império Bárbaro, importa discutir um ponto importante num post sobre os rumos do ensino e sobre o que o capitalismo dele quer, numa discussão que já tem alguns anos dentro da esquerda.

O ensino dirigido às competências não é obrigatoriamente um triunfo do capitalismo. Do ponto de vista da educação, Bordieu acaba por defendê-lo de alguma maneira, e Perrenoud toma uma posição clarificadora relativamente à esquerda que quer negar o ensino por competências. A questão passa por saber o que é o ensino por competências. O capitalista que defende que se deve "deixar de basear a educação na transmissão de conhecimentos e passar a desenvolvê-la com o objectivo da aquisição de competências" tem realmente o objectivo de construção de um trabalhador pronto a responder constantemente às necessidades da empresa e à crescente volatilidade do mercado de trabalho. Mas do ponto de vista das teorias da educação, o ensino por competências é bem exemplificado pela contraposição ao modelo estupidificante do Estado Novo. O desenvolvimento de competências opõe-se às correntes que levavam à memorização dos rios e das estações de comboios, procurando antes desenvolver espírito crítico, capacidade de interpretação e análise. Em vez de se decorar os rios, ensina-se a ler e a interpretar um mapa, obviamente apenas após se dar o conhecimento do que é um rio. E isto pode não representar apenas "uma simples ante-câmara do mundo do trabalho" e uma oficina de aprendizes, mas sim (também) uma escola de cidadãos politicamente conscientes, críticos e activos.
No fundo, é uma discussão que se dilui - se é verdade que a escola orientada para as competências pode beneficiar o capitalismo, também é verdade que só ela permite a formação dos cidadãos politicamente activos, sendo a única alternativa a transmissão estupidificante e acrítica de conhecimento enciclopédicos, como tínhamos por cá no Estado Novo.

Comments:
e como voltaremos a ter nos próximos anos, com o que estas "reformas" prenunciam, embora teoricamente muito fundamentadas em preâmbulos que dizem o contrário. É que com as limitações de horários das disciplinas comuns, cada vez mais se enchem chouriços. Safam-se apenas os que têm ajuda em casa!
Mas é sempre discutível.....
 
obrigado pelo contributo. sem dúvida que a Educação por competências é fundamental. O que eu queria evidenciar e desmontar é o que significa isso na linguagem do capitalismo. O conhecimento, na minha concepção, não é desligado da competência. a ciência é baseada num método. conhecê-lo é ter consciência de toda a "cadeia de produção" desde a interpretação à prática, passando pela descoberta.
o artigo que comentaste, é a primeira parte de um conjunto de reflexões, cujo objectivo desde já denuncio - desmontar a inevitabilidade e boa-vontade de bolonha.
 
Perfeitamente de acordo!!!!!! E venha de lá essa desmontagem pois é fundamental para se atinar com o que Bolonha tem mais de negro!
 
Bom post. E aproveitaram para se distanciar dalguma esquerda. Bolonha é de facto inevitável, está a avançar com maior ou menor dificuldade, e se o financiamento não mudar drasticamente nos 2ºs ciclos de ensino, fará todo o sentido.

E não podemos continuar a formar tantos jovens, como por exemplo em algumas áreas de ensino, e ciências sociais, para aumentar ainda mais o desemprego.

É efectivamente o capitalismo a apoderar-se do Ensino Superior Europeu, que como acontece nos States, será bem pago a médio prazo (talvez 10.000€ a 25.000€ por ano). É o mundo que temos :(
 
alguém percebeu este último comment?
 
partilho perplexidade...
 
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