01 junho 2006

 

Do lixo para a bomba


O “nuclear” faz gordas nas primeiras páginas dos jornais. Os capitalistas piratas, exemplarmente da estirpe Patrick Monteiro de Barros, especulam em voz alta sobre a construção de uma central nuclear. Em era de “choques tecnológicos,” a sugestão é oportun(ist)a para sarar o muito ferido orgulho tecnológico português. Esta conversa, que com tão poucos intervenientes se aproxima do monólogo, é pobre de conteúdo. Como é tradicional num país onde a elite é pequena e próxima e as massas indigentes e impotentes, o debate não existe. Os poderosos negoceiam nos bastidores e gemem meias-palavras para borrar umas páginas de jornal. Sabemos que a decisão será tomada sem consulta.

Não há justificação para a energia atómica em Portugal. O único benefício retiram-no os piratas do bolso dos contribuintes, pelos subsídios onde o projecto certamente receberia. Mais fundamental e preocupante é o risco de militarização ou de envolvimento com a indústria de armamento que advém da introdução do nuclear em Portugal. O urânio refinado que alimenta os reactores das centrais eléctricas é o agente explosivo das bombas atómicas. O plutónio produzido nos reactores das centrais, o lixo da fissão, tem iguais usos genocídias. E até os dejectos da refinação do urânio (urânio empobrecido) encontram utilidades militares, revestindo os obuses anti-tanque.

O problema dos lixos nucleares não se coloca ao nível da física nuclear, buscando soluções para encurtar os milhares anos de emissão radioactiva destes lixos. A problemática é geopolítica. A indústria nuclear civil está em comunhão com os interesses do militarismo imperialista. A indústria civil facilitou os materiais para construir, em posição de monopólio, o terrível arsenal atómico do ocidente. Os lixos da indústria civil são parte do arsenal dos exércitos da OTAN. As autoridades sérvias estão ainda a grande custo a localizar e extrair a cerca de tonelada e meia de urânio empobrecido que têm no seu subsolo. Mas o caso mais gravoso é o do Iraque, onde após a guerra de 1991 houve um aumento de 66 por cento em leucemias e cancros no sul do país. Investigações preliminares indicam que estes valores receberam um incremento de 20 por cento desde o início da guerra de 2003. Aqueles que resistem ao imperialismo são feitos num cemitério mortífero para as sobras da produção energética ocidental, envenenados por milhares de anos.



   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt