22 junho 2006

 

Anatomia de um golpe


Ontem, completou-se o círculo da tentativa do golpe em Timor. Só que nem sempre o que parece é. Para nós que estamos longe é mais fácil estabelecer uma sucessão de acontecimentos relevantes, limpa de ‘ruído’ de menor importância. Já aqui denunciamos as contínuas tentativas de suborno pela Austrália para conseguir os seus objectivos nas negociações do petróleo, bem como a opinião de Ruben de Carvalho e “Govan Mbeki” sobre a questão. Agora olhamos para as actividades mais recentes (mais ou menos) por ordem cronológica:

- “Revoltosos” pegam em armas e iniciam distúrbios, pedindo demissão de Alkatiri;
- Austrália prontamente se oferece para “ajudar” o vizinho;
- Primeiras duras críticas do Primeiro-ministro australiano ao governo timorense;
- Xanana Gusmão usa o seu prestígio de “pai da pátria” para tentar “acalmar” distúrbios;
- Discussão a quem GNR obedeceria se Austrália se a Timor, e dentro de Timor ao governo ou ao presidente.
- Choque violento entre militares australianos e GNR portuguesa: Australianos queriam mostrar quem é que manda em Dili; Já o Parlamento era protegido por Malaios e gostava que GNR patrulhasse Dili;
- Pressões sobre governo; Alkatiri muda dois ministros, o da Amdinistração Interna e o de Defesa, o último substituído por Ramos Horta;
- 8 de Junho – Ramos Horta disponibiliza-se para substituir Alkatiri;
- O chefe dos revoltosos, anteriormente radicado na Austrália, é entrevistado, tendo por companhia militares australianos supostamente para fazer de ligação;
- Mrs. Xanana Gusmão, uma australiana recauchutada timorense aponta baterias contra Mari Alkatiri. O Primeiro-ministro australiano volta à carga;
- 11 de Junho – Porta-voz de peticionários é recebido por Xanana;
- 16 de Junho – os revoltosos entregam as armas após “ordem de Xanana”
- 18 Junho – Xanana acusa FRETILIN de fazer golpe
- 19 de Junho – Ramos Horta visita supostos esquadrões: "Custa-me a crer que seja verdade. Mas este grupo parece ser fidedigno, sério e sente-se enganado (...) Acharam que as ordens que receberam não eram justas nem corretas e, por isso, recusaram cumprir as ordens e (decidiram) falar", acrescentou o ministro.

A prova que tudo isto não passa de um golpe está também no discurso de Xanana. Este preocupa-se mais a mostrar o seu antagonismo face à FRETILIN, juntando-se às elites da Igreja e dos partidos da oposição.

“Xanana acusa FRETILIN de fazer golpe para matar a democracia

O presidente timorense, Xanana Gusmão, afirmou hoje que a alegada distribuição de armas a civis se insere num plano da FRETILIN para «fazer o golpe e matar a democracia» em Timor-Leste.
«A FRETILIN quer fazer o golpe e matar a democracia», acusou Xanana Gusmão, numa mensagem ao país, em que anunciou a intenção de se demitir do cargo de Presidente da República se o primeiro-ministro, Mari Alkatiri, não o fizer.
«O problema da distribuição de armas não é para esta situação que estamos a atravessar. Eles já têm um plano. Fizeram a distribuição por causa das eleições de 2007 e é por isso que ouvimos eles dizerem: só a FRETILIN pode criar a estabilidade e a instabilidade», acrescentou.
Uma parte significativa da mensagem, que Xanana Gusmão demorou mais de 90 minutos a ler em tétum, foi dedicada à FRETILIN (Frente Revolucionária do Tim or-Leste Independente), partido maioritário liderado por Mari Alkatiri.
Xanana Gusmão integrou a FRETILIN até 1987, quando decidiu despartidarizar as Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (Falintil), de que foi comandante. As Falintil foram criadas em 1975 como braço armado da FRETILIN.
Na mensagem ao país, Xanana Gusmão historiou o processo de criação da FRETILIN e reconheceu que a opção pela ideologia marxista-leninista, numa reunião do comité central do partido, realizada em Maio de 1977, e em que ele próprio participou, correspondeu ao espírito da época.
Frisando que os tempos mudaram e as pessoas também, Xanana Gusmão considerou que se Nicolau Lobato e outros antigos dirigentes do partido ainda hoje estivessem vivos, «na era pós-guerra fria, nesta era de globalização e tecnológica, eles sentiriam que, para este Timor que eles amaram tanto e por ele entregaram as suas vidas, as ideologias antigas já não servem».
«Hoje, um pequeno grupo, vindo do exterior, quer repetir outra vez os comportamentos e atitudes anteriores, de 1975 a 1978», acusou, numa referência ao grupo dos exilados em Moçambique durante a ocupação indonésia, cuja figura principal era Maria Alkatiri.
Xanana Gusmão relembrou os acontecimentos de 1975, quando a UDT desencadeou um golpe «para fazer sair os comunistas desta terra e assim ter dado origem à guerra fratricida em Timor», para afirmar que agora, em 2006, «a FRETILIN quer fazer o golpe e matar a democracia».
O presidente timorense acusou também a direcção da FRETILIN de ter comprado votos no último congresso do partido, realizado em Díli, de 17 a 19 de Maio , afirmando saber que um delegado «recebeu 100 mil dólares para comprar os outros».
«Não sei se ele dividiu bem o dinheiro... talvez tenha dado apenas 500 dólares para os delegados e guardou o resto no bolso. Mas isto não interessa. É um assunto privado e ele não fica rico só por isso. Isto não é problema do povo, o dinheiro é do partido», afirmou, sem identificar o delegado em causa.
Afirmando conhecer a FRETILIN melhor do que «alguns delegados de todos os que participaram no congresso», Xanana Gusmão criticou o recurso ao voto de braço no ar, em vez do voto secreto, para eleição da actual direcção do partido.
Os delegados «só falam e levantam as mãos porque têm medo de perder o trabalho, para dar de comer à mulher e aos filhos, e mais ainda, por receberem dinheiro por trás», acusou.
Xanana Gusmão disse que, «enquanto Presidente da República», rejeita os resultados do II Congresso da FRETILIN por o método de votação por braço no ar não ter respeitado a legislação que regulamenta a eleição dos órgãos de direcção partidários, classificando a direcção liderada por Mari Alkatiri como «ilegítima».
«Enquanto Presidente da República não aceito o resultado do congresso, exijo à Comissão Política Nacional [da FRETILIN] que organize de imediato um Congresso Extraordinário para eleger, de acordo com a Lei nº 3/2004, sobre os Partidos Políticos, uma Direcção nova», afirmou.
«Dou um prazo de uma semana, para que este Congresso Extraordinário seja feito, porque a actual direcção da FRETILIN é ilegítima», vincou.
A acusação de Xanana Gusmão sobre o congresso da FRETILIN já foi rejeitada pelo por Mari Alkatiri, que a classificou como «extremamente séria».
«Não houve compra de votos de espécie alguma», garantiu Mari Alkatiri, em declarações à Lusa.
«Lamento que o presidente tenha chegado a este ponto de alegar compra de votos. É uma acusação extremamente séria. Não considero esta polémica saudável, porque a liderança da FRETILIN tudo tem feito para contribuir para a solução e não para agravar a situação», disse ainda Mari Alkatiri.”
Diário Digital

Comments:
o pior de tudo isto é o disse que disse...
 
Pior ainda só o facto que entre palavras, actos e (des)actos estão pessoas...
 
Ainda não compreendi bem o que se tem vindo a passar lá por essas bandas. Mas, só uma pergunta: estará o presidente Xanana feito com os australianos?
 
Ao princípio tinha dúvidas na minha inocente ilusão; quando a mulher do Xanana falou comecei a duvidar das minhas dúvidas. Agora, parece-me claro que está mais do que feito. Está feitissimo com o golpe e a prova está no discurso anti-FRETILIN aqui reproduzido. Havendo diferentes sensibilidades, não sei até quanto se sobrepôem: da Igreja Católica; aos australianos...
 
sim, e o ramos-horta vai pelo mesmo caminho. e inacreditavel que um ministro diga estar disponivel para ser primeiro-ministro. e a forma mais imediata de descredibilizar o governo a que pertence.
 
Mas o Ramos Horta foi sempre claro como água, um oportunista de primeira.

O seu comportamento tem sido sempre consistente no que diz respeito às suas prioridades. Por exemplo, apoiou a invasão do Iraque, a sua promoção para a ONU,... Mesmo em todas as suas aparições durante a "crise" (ou melhor o golpe) era fácil de ler as suas intenções.

Desse não tenho dúvidas do seu envolvimento e chave.
 
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