29 maio 2006

 

A segunda guerra vista pelos vencedores da "história"


No outro dia fui mais uma vez brindado por um dos supostos documetários rigorosos da RTP. Desta versava a segunda guerra mundial. Num balanço desta tudo servia de arma de arremesso contra os que foram durante o século XX o principal inimigo das "democracias ocidentais", a União Soviética.

"Do Dia D a Berlim" apresenta-nos as historia dos vencedores da "história". A tese central é que os russos eram maus. Roosevelt teria sido ingénuo (pelo sim pelo não andava a investigar a bomba atómica, acrescento eu) enquanto Churchill era mais pragmático e desconfiado face ao perigo vermelho. Segundo o documentário, até mesmo Goebbels teria pressentido o perigo que a URSS seria no futuro, prevendo a cortina de ferro. Embora depois refira os crimes de genocídio nos campos de concentração, o documentário chega mesmo a falar dos alemães como se os "maus" da segunda-guerra fossem os russos. O mais moderado é quando refere que "para combater um ditador, tinham-se aliado a outro", comparando Estaline a Hitler. Continua dizendo que símbolos nazis eram trocados por retratos de Estaline.

Nas malfeitorias perpretadas pelos russos chegam a incluir os massacres efectuados pelos Aliados como o bombardeamento de Dresden, que teria sido bombardeada a pedidos dos russos. A táctica de bombardeamentos às cidades pelos Aliados ocidentais passam assim a reponsabilidade para leste, ilibando responsáveis militares como Harry, conhecido como o carniceiro. Perante a bestialidade da resposta aérea (muitas vezes sem qualquer objectivo militar) houve vários pilotos que se recusaram a voar. Na guerra com o Japão, também há inúmeros relatos de barbaridades. Dos 80.000 mortos devidos ao bombardeamento de uma cidade (creio que tóquio) por bombas incendiárias às bombas nucleares já com recado para Moscovo, não se falou obviamente pois este era um documentário sobre a guerra a ocidente.

Quanto a Berlim, esta foi deixada para russos por ser zona soviética e não por estes chegarem lá primeiro segundo o documentário. De violações e pilhagens em Berlim até ao exemplo de um casal de idosos que se suicida em berlim (não se suicidaram com a ascensão de hitler nem acabaram numa valeta como acontecera anteriormente a Rosa Luxemburgo, Liebknecht e outros) tudo serve para manchar de vermelho os russos. Outro exemplo são os soldados alemães que não se queriam render aos russos, preferindo render-se a oeste. Pudera eles melhor que ninguém sabiam o que tinham feito a leste. Mas desses, os hediondos crimes dos alemães na URSS e especialmente a sua escala (muitos milhões de civis e soldados), não reza o documentário. Assim, diz o documentário, com estes casos do horror vermelho, o sonho da "bela nova ordem" pelos aliados desmoronava-se.

Para além das mentiras, em que Anne Applebaum ou José Manuel Fernades não se teriam saído melhor, o documentário omite o esforço do único país que aguentou o esforço de guerra face a face a alemanha nazi. Sem desprimor para as inúmeras resitências pelo mundo fora, a frente Leste sempre ocupou mais alemães (para não falar de italianos, romenos, finlandeses e muitos mais) e representou para estes um verdadeiro atoleiro. A resistência russa e o general Inverno não entram na história.

Ao invés desta propaganda de má qualidade e de selo caro, António Vilarigues apresentou várias crónicas no Público bem mais interessantes e informativas.

Comments:
"Segundo o documentário, até mesmo Goebbels teria pressentido o perigo que a URSS seria no futuro, prevendo a cortina de ferro." Pelo que sei foi mais interessante que isso.

Nos momentos finais e desesperados do Terceiro Reich, quandos os lideres ja so respiravam o ar artificial do bunker, Goebbels comunicou com os ingleses para negociar uma alianca do ocidente contra os vermelhos. Mas em 43 ja era tarde, os nazis tinham um regime em queda e nenhuma alianca travaria os sovieticos. Antes de Churchill foi Goebbels que propos a guerra fria.
 
Sem dúvida que os nazis tinham um ódio visceral à URSS, muito superior do que a hostilidade face ao Ocidente. Tal notou-se nas condições em que foram tratadas as próprias populações. Portanto, não surpreende que perante a derrota anunciada se tenham tentado aliar com o que lhes eram mais suportáveis.

O que achei surpreendente, mas coerente com as últimas modas, é a benevolência com que tratam os nazis, quase parte da mesma "civilização", ao invés dos russos. A civilização contra a barbárie. Esta união de "democratas" e nazis do documentário (também evidente num post que aparecerá nos próximos dias) chega por momentos a ultrapassar a equiparação dos nazis aos soviéticos, agora em voga.

Talvez natural quando muitos dos países que combateram sob o eixo estão agora na "Europa civilizada" ou desejam estar. Só sobra mesmo a Rússia...
 
tudo banal! É a historieta lavadinha e já repetida desde a guerra fria. Apenas muda a pintura que agora é mais fácil graças às novas técnicas digitais.
Mas o que é de facto muito preocupante não é o documentário mas que o seu teor seja repetido nos manuais escolares do 9º Ano e 12º e que, já tenha falado com recém licenciados en História que repetem exactamente o mesmo de forma abúlica, acrítica, canídia!
Aí é que está um problema grave...!
 
Quais os motivos por detras deste revisionismo historico que recupera os nazis?

- cada vez mais o nazi e' um cartoon, uma caricatura. Talvez sempre o tenha sido, mas com o passado real mais distante e fica somente a caricatura e perde-se a memoria real de que era mesmo assim...

- a dinamica moderna depois da guerra fria, e' progressivamente a do ocidente vs oriente. E a Europa (central e tudo) e' parte desse ocidente. Os monstros sao das montanhas balcanicas, das estepes russas e dos desertos muculmanos.
 
a.cabral,.....muito bem observado!
 
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