11 maio 2006

 

O roubo de Diego Garcia


A história de Diego Garcia é chocante e inacreditável. Uma das ilhas do arquipélago de Chagos, colónia Britânica no meio do Índico, é segundo todas as fontes belíssima, um paraíso com uma das raras reservas de corais do mundo. Em 1961, os 2000 habitantes foram expulsos da ilha, para que os americanos pudessem construir uma das maiores bases militares do mundo. Hoje vivem lá mais de 2000 oficiais militares, há portos para 30 navios de guerra, espaço para o depósito de lixo nuclear, uma estação espacial de espionagem, centros comerciais, bares e campos de golfe.

A expulsão dos habitantes de Diego Garcia foi levada a cabo pelo governo trabalhista de Harold Wilson, em absoluto sigilo com o governo americano. Para justificar o acto publicaram um role de mentiras (a que hoje já estamos habituados!) como a de que todos os habitantes da ilha eram trabalhadores contratados que teriam que voltar para as Maurícias, a mais de 1600 km de distância (a verdade é que havia famílias que já viviam na ilha há mais de cinco gerações). Assim que os americanos chegaram para construir a base, o governador das Seychelles, responsável pela evacuação da ilha, ordenou o extermínio de mais de 1000 cães de estimação dos habitantes, como aviso à população.

O exílio do povo de Diego Garcia é tragicamente conhecido pelo elevado número de suicídios, incluindo de crianças, prostituição, droga e desemprego. Só após uma década de luta é que os exilados receberam uma compensação do governo britânico: menos de 3000 libras por pessoa.

Em 2000, os Garcianos ganharam pela primeira vez o caso em tribunal, que considerou a sua expulsão como ilegal. Poucas horas depois, Tony Blair anunciava que o regresso dos habitantes à ilha não seria efectuado por “acordos” com Washington. Em Junho de 2004, o governo de Blair, encurralado pelo processo legal, ressuscita o poder real de anular o julgamento, favor que a rainha concedeu ao seu primeiro-ministro.

Hoje, mais de 40 anos depois, o supremo tribunal do Reino Unido voltou a falar em favor do povo de Diego Garcia, e a renovar-lhes o direito de regresso à ilha. Mas não é assim tão fácil: o governo britânico ainda pode pedir recurso e os novos residentes da ilha, agora britânicos e americanos, têm que concordar com o seu regresso.

Entretanto, os bombas de Bush e Blair continuam a voar das praias de Diego Garcia.

Comments:
E' extraordinario que este tema seja tao pouco referido pelos media. A BBC tem uns artigos sobre o assunto mas mais fruto da campanha do John Pilger em divulgar esta atrocidade.

Impor este exilio a um povo parece-me um gritante caso de violacao de direitos humanos. Mas para estes criminosos o tribunal de Haia, o conselho de seguranca da ONU sao cegos, surdos e mudos.
 
É interessante registar as analogias com a situação de Israel/Palestina: da "base militar" aos refugiados sem direito a país.

Samir
 
É sempre bom sabermos as linhas com que nos querem "coser" e quando se trata deste tipo de disparates eles não olham a meios.
 
Não se escreve Contractados mas contratados.

Cheira-me que já teve direito à inversão do ónus do chumbo.

Melhores Cumprimentos,

Dominique Villepin
 
Ó Villepin vai mas é brincar ao CPE...
 
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