18 maio 2006

 

A inversão do ónus do chumbo


A actual Ministra da Educação anda com fama de grande reformadora, de pessoa que está a pôr o sistema de ensino nos eixos. Ignorando por agora a validade ou relevância das medidas que anda a tomar para a melhoria do sistema de ensino, uma há que de tão grotesca e algo demagoga não pode deixar de ser notada. Portugal tem uma das mais altas taxas de insucesso escolar e de abandono escolar da CE, uma das mais baixas taxas de licenciados, e um nível de literacia dos mais baixos. É um facto que o sistema de ensino é duro para muitos alunos, porque não têm as competências que a escola lhes exige, porque o ambiente familiar e social não os estimula para a escola, ou por uma miríade de outras razões. Por tudo isso, chumbam às mãos cheias. Ora, o que a Sra. Ministra decidiu fazer foi inverter a questão da reprovação. A lógica que parece agora ser estabelecida é a de que todos os alunos estão passados, salvo prova em contrário. Até agora, a avaliação das competências definidas pelo M.E. era um processo contínuo e acumulado, fazendo-se no final do ano o balanço, determinando assim se o aluno havia atingido as competências suficientes para transitar. Agora é ao contrário. Para chumbar um aluno (qualquer aluno), é preciso pedir um parecer ao Encarregado de Educação e outro ao psicólogo da escola, é preciso justificar em acta todos os critérios de avaliação utilizados e as razões pelas quais o aluno não atingiu o patamar necessário. Se for para passar, não é preciso fazer nada disto. Na prática, se o professor quiser chumbar um aluno fica inundado de papelada, mas logo ao lado aparece o caminho fácil de fechar os olhos e deixá-lo passar. Para a Ministra é óptimo, pode ir para Bruxelas ou para S. Bento mostrar os gráficos bonitos a mostrar a diminuição das taxas de retenção. Para o país, passamos a atribuír certificados de 9º ano a pessoas que não têm realmente essa habilitação, continuamos a ter um défice educacional gritante, uma mão-de-obra pouco qualificada, e um país a andar para trás. Mas fica bem nas estatíticas...

Comments:
junta a isso a intenção de aumentar a escolaridade obrigatória para o 12.º ano, e tens a cereja no topo do bolo.

ou ainda estudos que tentam associar o insucesso e abandono escolar com a delinquência, em vez de tentarem ao menos estudar os impactos sobre o percurso profissional dos alunos.
 
Sou contra os chumbos. Acho que sao fonte de segregacao na escola e uma das causas do abandono escolar. Alias, ha bons argumentos para que nao haja sequer uma avaliacao em escala e quantitativa.

Parece-me que os outros modelos na Europa nao sao assim tao diferentes deste que esta agora a ser proposto. Pelo menos em Inglaterra, os chumbos sao raros e tem que ser bem justificados (em vez de ser apenas a escola a atirar mais um aluno para a turma dos repetentes).

Outra questao e' quais sao as "competencias" que a escola deve exigir. Neste momento confunde-se o resultados nos testes com competencias. Uma possivel vantagem deste modelo (se incluir psicologos e pais na avaliacao) e' redefinir as "competencias" num sentido mais psico-cognitivo, e nao meramente curricular.
 
Obviamente que nenhum professor pode querer chumbar alunos. Nem pode ser esse o objectivo da escola. Mas a questão não é ser a favor ou contra. A questão é se, no contexto actual do ensino em Portugal, é ou não necessário que os alunos reprovem para se manter um nível de qualificações nos vários anos de escolaridade minimamente decente. Portugal tem um problema que não é nada fácil de resolver, relacionado com a abertura tardia do ensino às massas e com os índices de pobreza e fraca formação de uma grande parte da população, e que o diferencia de qualquer outro país. É por isso que defendo que o problema não está na escola, com todos os seus defeitos, mas sim em tudo o que a envolve. Neste momento, o nível de exigência no ensino básico é gritante. E discordo quando a Dolores diz que as competências são as dos testes. Há muito tempo que as competências são psico-cognitivas e são variadas e são tudo e mais alguma coisa... Mas, neste momento, os miúdos passam até ao 9º ano se conseguirem escrever o nome sem (muitos) erros! É gritante! E discordo ainda mais quando a Dolores fala dos pais. Se há um problema gravíssimo no ensino hoje é o papel absolutamento deslocado e distorcido que os pais têm no processo de avaliação. Até há pouco tempo, eu não tinha noção de quão mal está o nosso sistema de ensino. E passagens puramente administrativas são mesmo só para as estatísticas e não têm qualquer valor pedagógico.
E, ao ter uma escola assim, não estamos a ajudar ninguém nem a promover a integração de ninguém... Bem pelo contrário!
 
ÓÓÓHH amiga Dolores, nem parece teu. Comparar a escola inglesa com a portuguesa é um erro suficiente para levar a questionar quase tudo o que dizes a seguir. Não podes comparar a sociedade inglesa, que vê na escola um meio de atingir algo na vida (ao contrário de Portugal em que o estímulo é para abandonar e ir trabalhar para a fábrica de calçado ou para a telepizza), onde a escola de massas existe há séculos (ao contrário de Portugal que começou aos tropeções depois do 25 de Abril), onde o licenciado é recompensado pelo percurso académico que fez, arranjando (mais) facilmente um trabalho (ao contrário de Portugal onde os licenciados têm como uma boa opção dobrar roupa na Zara)...Só se pode inverter a lógica do chumbo quando a sociedade valorizar a escola, podendo assim exigir dela justificação para o falhanço de um aluno. Em Portugal, a escola até pode fazer o pino, porque enquanto a sociedade em geral desvalorizar a escola, sobretudo enquanto meio de definição de carreira profissional, nunca conseguirá resultados. Enquanto os pais forem à escola para culpar o professor pelo facto do filho ter atirado uma cadeira a um colega, nada feito. A escola é um reflexo da sociedade que se tem, e por isso é falacioso comparar países. Já o Sócrates andava a fazer a mesma coisa, com a demagogia da comparação sistemática à Finlândia. Para o que lhe interessava, claro...

Quanto às competências avaliadas, a coisa já não é bem assim, como alguém disse antes.
 
Caros Mbeki e igamm

Se a comparacao com a Inglaterra (sobre a qual, o Mbeki tem uma visao bastante romantica) parece demasiado deslocada, entao, e porque Portugal nao e' um caso 'a parte, pense-se na Coreia do Sul ou na Irlanda - paises que ate ha muito pouco tempo tinham um atraso comparavel a Portugal, se nao maior. O que estes casos mostram e' que a escola pode ter um efeito progressista sobre a sociedade e que nao tem que se estar a espera que a sociedade mude para a escola mudar, como voces parecem estar a dizer. Valorizar a escola tambem e' nao deixar que ela se desculpe com a "envolvente".

Nao estou tao segura que a questao das competencias seja um assunto resolvido.
Quando a igamm diz que "Há muito tempo que as competências são psico-cognitivas e são variadas e são tudo e mais alguma coisa..." o tom e' um bocadinho demitivo. A preoupacao que ha sobre os exames, sobre o dar o curriculo ou ate a questao mais estrutural do tamanho das turmas mostra que nao ha uma pratica que valorize o aspectos mais pessoais e cognitivos.

Para mim, valorizar a escola nao e' valorizar o certificado do 9º ano, mas valorizar aquilo que se consegue fazer com os miudos.
 
Como ja dizia a Mystique ha uns dias, isto para mim e' tudo uma questao de poder.

Se queremos mudar a sociedade portuguesa nao fiquemos de olhos fixos so nos valores dos salarios e noutras pobrezas materiais. Ha tambem um parte cultural neste processo, a questao da autoridade.

Da mesma forma que o homem se impoe sobre a mulher, o patrao sobre o trabalhador, o medico sobre o doente, o cientista sobre o leigo, tambem o professor se impoe sobre o aluno e os pais. A caricatura que oferecem dos pais analfabrutos que incomodam o senhor professor tem qualquer coisa de conservador.

O aluno nao e' tabua rasa para ser edificado pelos curriculos, comunicado pelo pulpito professorial. O aluno nao e' objecto, e' sujeito.
 
Mas é precisamente isso que estou a dizer, Dolores. O que esta nova lei da ministra está a fazer é valorizar exclusivamente o certificado de 9º ano. Os alunos que têm os códigos certos até podem ter uma escola horrível que conseguem (quase) sempre sucesso académico. Os outros é que precisam de uma boa escola para conseguirem dar a volta por cima, para a aprenderem a ser mais do que o seu meio lhes permite ser.

A questão é que, neste momento o que tu fazes a esses miúdos é deixá-los passar sem qualquer espécie de competências (sejam de que tipo for) adquiridas, eventualmente lá conseguem o certificado de 9º ano, mas, como foram levados ao colo pelas leis da ministra, nunca na vida conseguem fazer o secundário (o 10º ano é o ano de escolaridade com mais reprovações e desistências). Lá ficam com o seu certificado, o país fica melhor nas estatísticas, e eles ficam na mesma. Concordo contigo quando dizes que não apostamos em educação.

E provavelmente é aí que jaz todo o problema. E isso reflecte-se no facto de os alunos não valorizarem a escola, que é o drama na escola. Provavelmente se a atitude dos governos mudar em relação à escola, ajuda a mudar a envolvente. Mas, no caso específico desta lei, que é o que se está a discutir, é deitar areia para os olhos e é desfazer ainda mais a escola (que está, neste momento, provavelmente, no fundo do poço).
 
E, já agora, a questão das competências já está a mudar há algum tempo. Esclareço que concordo com a existência de testes e de provas globais e de exames nacionais, em absoluto. Acho que são instrumentos importantes num determinado contexto e com uma função específica. Mas a avaliação, hoje é dia, não faz tábua-rasa dos alunos, move-se em função destes e é cada vez mais diversificada. Mas a questão principal, a meu ver, é, como já disse e como frisou o Mbeki, os alunos não valorizarem a escola e esta apenas lhes pretender entregar um certificado.

Quanto à questão dos pais, a escola nem os professores se impõem sobre os pais. Muito, mas mesmo muito pelo contrário! Os pais e os professores têm funções complementares mas diferentes e deveriam inter-ajudar-se para um interesse comum. Não é isso que acontece, muitas vezes, e a escola está a ser completamente engolida e burocratizada em função da completa demissão dos pais da educação dos filhos e da responsablização que eles (e toda a sociedade) constantemente atribui à escola. E, já agora, os pais mais problemáticos nesta perspectiva não são os "analfaburros", são os do outro extremo...

Para terminar, a escola tem mudado muito. Os alunos também. E, cada vez mais, se impõem eles sim sobre os professores. Mas a escola e os currículos e os métodos de ensino e a função do professor continua a ser, a meu ver, bastante importante e parece-me que insubstituível. Não é a perspectiva do "púlpito professorial", mas não caiamos no outro extremo em que os alunos e professores, enquanto representantes de um estado que atribui competências e conhecimentos a atingir, estão em igualdade de circunstâncias. A escola forma cidadãos com base em ideais que o Estado define. Neste aspecto, a escola terá sempre de se impôr aos alunos.
 
Não vejo o romantismo da minha visão sobre Inglaterra. Pelo contrário, vejo romantismo na visão da Dolores sobre Portugal. A análise que fiz ao caracterizar os sistemas inglês e português era exclusivamente comparativo. Não disse (nem digo) que o sistema inglês é bom, digo sim que tem uma série de características que o tornam diferente - e melhor - quando COMPARADO com o português.

E mais dois maus exemplos. Não é possível comparar a relação com a ordem e autoridade que a cultura sul-coreana tem ou o investimento brutal e quase cego que os Irlandeses fizeram na educação - e bem - com a situação portuguesa. A escola não faz milagres, e não se pode exigir dela o que a sociedade não consegue dar, apesar de ser também uma função da escola a de mudar a sociedade e puxá-la para novos caminhos. Mas se puxa demasiado, a corda parte, se puxa de menos, não se vai a lado nenhum.

Quanto à questão da autoridade do Cabral, mesmo assumindo o aluno como sujeito e não objecto - o que eu defendo e pratico, não conseguindo perceber onde é que disse o contrário - lembro-me de uma posta antiga onde se discutia algo relacionado com isto e em que tu, Cabral, lançaste um comentário assaz interessante:

http://obitoque.blogspot.com/2005/07/culpa-da-escola.html

A escola é um instrumento político do Estado, e não pode ser centrada nos divagantes interesses dos alunos - ou da classe donde provêm. O professor, enquanto agente do Estado, tem de ter o poder de controlar o rumo de uma turma. Se é a isso que te referes quando dizes "também o professor se impõe sobre o aluno e os pais", não poderia concordar mais com essa imposição. Agora isto não implica que a escola se deva fechar ao meio, aos pais, à comunidade. Temos é de avaliar quais são as influências que esse meio traz para a escola, e como é que elas se conjugam com o objectivo político da educação definido pelo Estado. Dizer o contrário começa a parecer o discurso dos paizinhos liberais que querem poder escolher a escola onde os filhos andam, escolher o que eles aprendem, os valores que são transmitidos, e ainda querem que seja o Estado a pagar, sobretudo se for uma escola privada...
 
Temos que discutir o que e' COMPARAR. As comparacoes fazem-se com diferencas e e' com as diferencas que aprendemos alguma coisa. O argumento como eu o li na Dolores era dizer que a escola pode ter efeitos progressistas na sociedade e nao precisa de ficar a espera de mudanca cultural, da "envolvente". (E neste sentido a discussao das quotas no parlamento parece regressar - devemos esperar que a cultura mude para mudar as suas instituicoes, ou mudamos as instituicoes para que a cultura mude?)

A questao do papel transformador que a escola pode ter liga-se directamente com o post que referes. Ai reflectias numa perspectiva "funcionalista" sobre o lugar da escola na sociedade portuguesa. O meu comentario na altura nao difere da visao da Dolores, a escola nao e' so reflexo do que se passa no Estado, e na Familia, tem autonomia. A escola pode reeducar nao so os miudos como os pais, como o estado. Esse potencial existe.

O meio para realizar o potencial passa (alem das fundamentais questoes materiais) por implodir com a sua autoridade. A ideia que so' no papel de senhor professor e' possivel conversar com os pais e' completamente errada. O senhor professor, como o senhor ministro, como o senhor patrao, nao convencem, toleram-se, abana-se a cabeca em obediencia mas sao seres estranhos e exteriores que nos sao (correctamente) distantes.

A arrogancia das profissoes nao e' menos conservadora que os preconceitos familiares do catolicismo portugues. Para mudar os pais e' preciso apelar 'a sua inteligencia e interesses. Talvez ai estes oucam e valorizem a escola. Talvez, talvez, entao nao sejam tao agrestes com os professores?
 
Não percebi esta tua resposta:

TU DIZES:"Temos que discutir o que e' COMPARAR. As comparacoes fazem-se com diferencas e e' com as diferencas que aprendemos alguma coisa";

EU JÁ TINHA DITO: "Não disse (nem digo) que o sistema inglês é bom, digo sim que tem uma série de características que o tornam DIFERENTE - e melhor - quando COMPARADO com o português."

TU DIZES: "O argumento como eu o li na Dolores era dizer que a escola pode ter efeitos progressistas na sociedade e nao precisa de ficar a espera de mudanca cultural, da "envolvente" e continuas "...a escola nao e' so reflexo do que se passa no Estado, e na Familia, tem autonomia. A escola pode reeducar nao so os miudos como os pais, como o estado. Esse potencial existe.";

EU JÀ TINHA DITO:"A escola não faz milagres, e não se pode exigir dela o que a sociedade não consegue dar, APESAR DE SER TAMBÉM UMA FUNÇÃO DA ESCOLA A DE MUDAR A SOCIEDADE E PUXÁ-LA PARA NOVOS CAMINHOS. Mas se puxa demasiado, a corda parte, se puxa de menos, não se vai a lado nenhum."

QUANTO A ISTO:"A ideia que so' no papel de senhor professor e' possivel conversar com os pais e' completamente errada. O senhor professor, como o senhor ministro, como o senhor patrao, nao convencem, toleram-se, abana-se a cabeca em obediencia mas sao seres estranhos e exteriores que nos sao (correctamente) distantes."

EU DISSE:"Agora isto não implica que a escola se deva fechar ao meio, aos pais, à comunidade. Temos é de avaliar quais são as influências que esse meio traz para a escola, e como é que elas se conjugam com o objectivo político da educação definido pelo Estado", o que me parece substancialmente diferente do rótulo corporativo que estás a querer colar.
 
E relativamente à questão da tábua rasa, isso é algo que me faz cócegas de vez em quando. Lembro que na minha filosofia de 11º ano o professor se apressou a ridicularizar essa teoria da tábua rasa. Apesar de achar que não somos uma tábua absolutamente rasa, a verdade é que acho que somos SOBRETUDO o que a sociedade faz de nós. A ridicularização da "tábua rasa" leva às belas teorias da propensão genética para o crime, à justificação determinista do insucesso escolar de alguns, do sucesso genético de outros, etc., etc., no fundo, retirando à sociedade de classes o ónus (parece que esta palavra está na moda aqui n' oBiToque ultimamente) desses problemas e passando-os para um confortável geneticismo...
 
A nossa discussao esta' 'as avessas porque eu quero discutir os termos em que se da a relacao entre a Escola os Pais e o Estado e tu satisfazes-te em dizer que a ligacao deve existir.

E' um grau muito reduzido de entendimento - dizer que a escola "nao se deve fechar", muito diferente da discussao de COMO se deve abrir. E o argumento que "A escola não faz milagres, e não se pode exigir dela o que a sociedade não consegue dar, APESAR DE SER TAMBÉM UMA FUNÇÃO DA ESCOLA A DE MUDAR A SOCIEDADE E PUXÁ-LA PARA NOVOS CAMINHOS." tambem me parece ambigua porque apesar de reconheceres a funcao transformadora comecas com "nao faz milagres" e nao se pode "exigir o que nao consegue dar", ora eu li isto (no tom do que tambem ja tinha sido dito em cima, e noutros posts recentemente citados) como uma depressao face 'a autonomia e poderes da escola, a afamada "envolvente".

O associar da negacao da tabua rasa para a sociobiologia parece um pouco forcado. A tabua rasa e' uma perspectiva individualista e nao estruturada da cognicao, onde nao ha mediacao entre o mundo e o individuo (o empiricismo de Francis Bacon). Para falar numa cognicao social, onde classe, poder, cultura (no fundo pedagogia) entram no cocktail e' preciso abandonar a tabua rasa, e reconhecer que o aluno chega 'a escola com capacidades/competencias (se estas tem origens biologicas ou sao estritamente sociais fica em aberto). Podemos ser contra a tabua rasa neste contexto e permanecer um existencialista.
 
Mbeki,
De facto dizes que e' funcao da escola mudar a sociedade e que a escola nao se deve fechar ao meio, pais e comunidade. Mas como e' que isso se faz, se ao mesmo tempo achas que a escola nao pode ser centrada nos divagantes interesses dos miudos, que o prof e' um agente do estado, que o prof tem que se impor sobre o aluno e os pais. A escola nao se deve fechar 'a comunidade mas deve-se impor?? Que estranho sentido de abertura e progresso!...

E' aqui que as nossas diferencas surgem. Nao basta dizer que a escola deve ter um papel progressista. Ha tambem que lutar contra ideais que nos sao dados como adquiridos, quase inquestionaveis (o prof tem que se impor etc). Estes sao so' mais uma arma para manter uma sociedade desigual e alienada.
 
Ao Cabral: de facto estamos a discutir em níveis diferentes, porque eu estava apenas a discutir a relação escola-meio no contexto inicial da posta, e tu já estavas a aprofundar essa relação. Quanto a isso, não tenho ideias muito claras sobre as caracteríticas da relação escola-meio, apesar de ser óbvio que a escola tem de se abrir. Mas ainda assim, parece-me que depositas muita fé na escola, desvalorizando a "depressão do envolvente" - a escola não é nem será um motor de uma revolução, será sim um aspecto importante da sua sustentabilidade. A escola torna-se realmente importante quando o estado burguês é substituído - até lá, o melhor que pode fazer é desenvolver consciência crítica; quanto à tábua rasa, no meio de tudo o que disseste e que não tenho capacidade de contestar porque não conheço, fica o "se estas tem origens biologicas ou sao estritamente sociais fica em aberto" que era precisamente o que eu estava a discutir. Para mim são sobretudo sociais, não negando (totalmente) a influência genética. Mais uma discussão enviesada.

À Dolores: defendo um estado forte e centralizado, e acho que a educação é antes de mais um instrumento político de moldagem da sociedade, devendo por isso estar sob o controlo total do estado. Sou por isso contra o ensino privado, e contra todas as "aberturas" ao meio que interfiram nesse poder do estado sobre a educação. Isto é um princípio. O que se pode (e deve) questionar é qual é o estado que controla hoje a educação e que moldagem está a fazer com ela. Mas isso é outra discussão paralela. O que estava a defender é que, perante a ofensiva liberal e individualista sobre a escola, onde cada um quer que o seu filho seja ensinado de acordo com os SEUS valores pessoais, e não segundo os que o estado definiu, sou contra a abertura da escola e sou a favor da imposição do poder do professor ENQUANTO representante dos objectivos educacionais do estado e não como agente corporativista de autoridade e repressão. E a sociedade desigual e alienada não se mantém por causa do papel do professor, mantém-se porque o burguês assim o quer. Em todas as experiências socialistas que houve o poder do professor era extremamente grande, e isso nada tinha a ver ocm desigualdade...
 
E vamos lá ver o que são os "interesses divagantes dos alunos". A visão prática aqui é importante. Se tens um aluno filho de um qualquer empresário bem-sucedido ao lado de um aluno de um secretário de uma bem sucedida cooperativa agrícola, o professor desenvolve competências de cooperação, trabalho em grupo e partilha de ideias - como gostará o pai da cooperativa - ou valores de individualismo, liderança e autoridade - como gostará o empresário? Para mim é simples, é o estado e não os pais que decidem isto...
 
não tive e não tenho tempo para ler a discussão à qual voltarei noutra altura.

Embora não seja contra os chumbos por princípio, creio que eles são o reflexo do falhanço do sistema educativo.

Muito cedo se começa a definir o caminho lectivo dos alunos. No final da primária já muito se poderá adivinhar.

Deve-se caminhar no sentido de imediatamente no ano em que o menor começa a ficar para trás (e não esperando pelo seu chumbo), apostar na sua recuperação. Tal não é compatível com o alheamento da escola e parte dos professores dos resultados dos seus alunos.

Obviamente, que facilitar a passagem por facilitar não resolve nada, bem como vicia os indicadores.

Quais as competências que os menores devem ter será o assunto mais polémico.
 
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