24 maio 2006

 

De quem trabalha


A senhora das limpezas do departamento onde trabalho, a Ângela, é espanhola. Acho que tem uma filha, mas vive sozinha aqui em Inglaterra. Vai de férias para Espanha de vez em quando. Não gosta de cestos de reciclagem de papel porque as pessoas deitam tudo lá para dentro, restos de comida, canetas velhas, latas de refrigerantes, e ela tem que os tirar, um a um do caixote (as latas são especialmente más porque o pessoal deita-as fora ainda com líquido lá dentro e quando ela as tira suja-se toda). Há uns dias que não vem recolher o lixo. Soube hoje que teve um AVC.

Comments:
A Maria dos Anjos trabalha no bar do meu trabalho. É cabo-verdiana, está cá há 3-4 anos. Tem três filhos. As raparigas, são as mais velhas, estão em Cabo Verde pois os pais vieram para cá sózinhos. Foi cá que nasceu o mais novo, o rapaz.
A Maria está à espera de autorização do SEF para trazer as filhas para Portugal, para reunir a sua família. As filhas não conhecem o irmão pois desde que saiu de Cabo Verde nunca mais lá foi.
Entre autorização de residências e pedidos de reagrupamento familiar, processo que se vem arrastando há quase um ano, talvez lá para o Natal se fiquem a conhecer.
 
Enquanto que muitas Africanas e mulheres da Europa de Leste andam por cá nas limpezas, há Portugueses na mesma área pelo resto da Europa ou outras paragens. Como noutros casos são atraídos pelos salários mais elevados, mas mesmo assim ainda bastante menores que outros de lá.

Estive algum tempo na Holanda e foi interessante ver que lá também há bastantes homens nas limpezas. Obviamente, que não encontramos "holandeses" nestas tarefas - talvez a única excepção seja um ou outro jovem estudante. A maioria são "imigrantes" de Árabes, África e Antilhas holandesas.

Portugueses também os há. Num sítio que estive, o chefe das limpezas era Português. Vários familiares trabalhavam lá. Fartam-se de trabalhar, tendo muitas vezes diversos biscates, nerm sempre legais. Por outro lado, tem acesso a um estilo de vida que nunca teriam cá. Tentam ainda conservar determinados consumos, da cerveja portuguesa ao sumol, da sardinha a outros petiscos.

Também havia uma Cabo-Verdiana (a Holanda é o destino "preferido" destes). A sua primeira experiência tinha sido a França, o que na altura foi um choque. Ela era muita nova e nãoi falava a língua. Eventualmente conheceu o seu marido árabe e eventualmente tentaram a sua sorte na holanda.

São vidas duras, muitas vezes sem rede. Mas também são vidas de coragem de quem não se resigna à sua sorte.
 
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