04 maio 2006

 

A criminosa lei da imigração


O grande evento do dia do trabalhador, aferido pelos media internacionais, foi o boicote imigrante à economia Americana. É legitimo estranhar esta descrição de “boicote.” Mas foi deste modo que se o descreveu, evitando a mais gravosa identificação de “greve”. O movimento dos imigrantes nos EUA combate a iniciativa republicana de criminalizar o imigrante ilegal e erigir um “muro de Berlim” para dividir o continente. Os meios de luta são ao momento copiosamente ditados pela ala conservadora da comunidade hispânica. Proíbem-se os termos da luta de classes, como o acto da greve, e os símbolos do anti-colonialismo, substituindo-se as bandeiras do sul pela “stars and stripes” em lealdade à nova pátria.

As enchentes das ruas repetem-se há meses mas a paralisação de 1 de Maio provou para todos que o imigrante sem papéis está organizado e pode causar transtorno à recuperação económica Americana. Sem revelações futurológicas para ofertar sobre este movimento - que pode tanto se esvanecer em compromissos com o Estado Federal ou corporizar um combate radical sem precedente - prefiro interrogar-me sobre as causas desta lei.

Os dados sobre a imigração ilegal são obviamente de credulidade dúbia, diz-se que o número de ilegais na América nunca foi tão elevado. Mas isto não significa que um número crescente de indivíduos salta a fronteira, basta que as quotas de legalização se tenham reduzido (estas ninguém mencionou)! Em parte esta lei parece advir de um expediente político. Desde os atentados às Torres Gémeas que os Americanos estão a ser ensinados a temer a sua própria sombra, sobretudo se a sombra não for caucasiana. Criminalizar o imigrante ilegal, na impossibilidade de alargar a guerra no Médio Oriente, dá a ilusão da acção a um governo paralisado.

A burguesia parece acatar com a lei, talvez indício de que não será muito penalizada pela mesma. A única alteração que o lobby burguês pede do projecto legislativo é que se retire a multa prevista para os empregadores dos ilegais. Eis uma lição do direito capitalista: criminoso só pode ser o (indigente) trabalhador, o patronato é imune. No imediato o patronato Americano tem algo de substancial a perder: uma fonte relativamente dócil de mão-de-obra barata. A prazo, no mundo globalizado, este custo é rapidamente saneado “deslocalizando” (como se diz na gíria). Os muros das fronteiras servem somente para encurralar as gentes, os capitais circulam sem lei com a produção a trocar nacionalidades. No capitalismo a liberdade da produção é a prisão do trabalho.

Comments:
"No capitalismo a liberdade da produção é a prisão do trabalho."

Por cá, condenam os trabalhadores a mais tempo de prisão...
 
E quanto à imigração andam a "assustar" os portugueses:

- "Imigrantes já passam meio milhão" Correio da Manhã

- "Imigrantes legais já são 4% da população portuguesa" Público

Alguém que me recorde a percentagem de portugueses no Luxemburgo...
 
Infelizmente, a prática de proibição/substituição de determinada terminologia por ser "demasiado radical" ou "antiquada" é prática comum. Mesmo parte da esquerda evita determinadas palavras, por exemplo o internacionalismo. É necessário revitalizar palavras que mantêm toda a actualidade mas que alguns persistem em atirá-las para o baú do esquecimento.
 
Em nota ao comentario do Machel, cabe-me anunciar com pompa que o "internacionalismo" e' que vai salvar o mundo!
 
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