09 fevereiro 2006

 

Sada Says: "Comb the Desert"


Quase 3 anos após a Invasão do Iraque, com bastante tempo para passar o deserto a pente fino, vasculhar discos rígidos e documentos, seria de esperar que a conversa sobre as WMD tivesse estagnado. Nem que fosse com a declaração de Bush "We did not find those weapons." . Mas não. Isto é muito complicado, e há aqui muita coisa que a gente não sabe.

A ideia de que as armas teriam sido transportadas para a Siria não é nova. Talvez não tão valorizada fora dos EUA (tentem ler a edição online da FoxNews durante uma semana, o vosso cerebro começará a sussurrar muita coisa), mas de qualquer forma, continuou em pano de fundo. O elemento novo são as declarações do ex-número 2 da forca aérea iraquiana, o General George Sada. Já exilado nos EUA desde 2002, George veio contar como dois colegas lhe contaram o que se passou. Ah, pois é.

E como é que se conseguiu tal feito? Em Junho de 2002, terá sucedido o colapso de uma barragem na Síria. O Iraque, já pressionado pelas inspeccoes da ONU, toma lá, aproveitou-se da situação. Ofereceram ajuda humanitária à Síria e os espertalhões (agora vem a melhor parte) o que é que fizeram? Tinham dois aviões comerciais, aos quais retiraram os assentos e toca lá a pôr barris amarelos com caveiras na tampa lá dentro. Alguns desses barris também foram transportados por camiões. No total foram 56 os vôos, bem contadinhos.

Então agora vamos lá a rebobinar e a rever esta história. Rebenta uma barragem na Síria, visto que a ajuda humanitária teve lugar durante os poucos meses seguintes, deve ter sido questão de um simples telefonema... Saddam: "Ó colegas, pá, isto eu tenho aqui uns inspectores que vêem de visita e, coisa chata, tenho de arrumar a casa. Vocês não se importavam que em vez de mandarmos ajuda humanitária vos enviássemos 56 aviões cheios de agentes químicos e biológicos? É só até eles se irem embora." Ao qual os sírios terão respondido, "claro", mas tu trata de devolver o corta-relvas que te emprestámos ainda antes da Guerra com o Irão. E isto esquecendo o controle que os EUA tinham sobre o espaço aéreo iraquiano, e que naturalmente nunca pensariam em investigar que raio de ajuda humanitária era aquela que precisava de aviões de passageiros a ir para trás e para a frente 56 vezes.

A própria análise que o George faz do Iraque é apaixonante:

"Iraq has a Christian history that goes back to 79 AD [...] Muslims didn't come in until 600 AD or later. Iraq historically is not a Muslim nation, but is a Christian nation."

(isto provavelmente quer dizer que Portugal é um país bárbaro com algumas raízes mouras, os cristãos só chegaram bem para além do ano 600...)

e ainda

"In my mind, 85% of Iraqis are supportive of the American liberation of Iraq"

Mais pormenores no livro: "Saddam's Secrets: How an Iraqi General Defied And Survived Saddam Hussein". Se entretanto já conseguiram acabar de ler o último do Paulo Coelho.

Comments:
Patrice, muita bem esgalhado! Como se dizia ja ha uns milhares de anos, RIDENDO CASTIGATE MORES. Parabens, ainda estou a rir.
 
Um dia destes ainda faco um blog em que assinarei como um tal de Jean Bedel Bokassa, reconheces? eheheh...
 
Pelos vistos é mais fácil transportar "armas químicas" (apenas 56 vôos) do que "prisioneiros ilegais" (nos inúmeros vôos da CIA).

Interessante é o ressalvar das "boas relações" de Saddam com os vizinhos. Durante a primeira guerra do golfo e depois de invadir o Koweit, o Iraque preferiu pedir ao seu inimigo de longa data Irão para ficarem temporariamente com uns aviões (que evidentemente nunca viram volta).

Força Patrice...
:)
 
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