06 fevereiro 2006

 

Rumsfeld, Chavez e Hitler


Donald Rumsfeld, um dos arquitectos da agressão ao Iraque, comparou recentemente Hugo Chavez a a Adolf Hitler. Segundo ele ambos teriam sido eleitos democraticamente. Para além disso, demonstrou estar preocupado com a corrupção na América Latina. Isto porque a corrupção dos legitimados pelo povo, mancha a democracia.

Quanto ao primeiro aspecto da questão é falso que Hitler tenha ganho as eleições. Este só ascendeu ao poder através da aliança com determinadas elites (por exemplo, os grandes industriais), nunca tendo obtido a maioria absoluta dos votos. Apenas com a resignação do chefe de governo anteriormente nomeado e com os seus actos de intimidação conseguiu manter o poder, mas não pela via eleitoral. Curioso que Rumsfeld, membro da 1ª e 2ª Administração de George W. Bush, esqueceu-se da muito constestada vitória no 1º mandato com fortes indícios de fraude e logro. Aspecto também interessante é a capacidade de Bush de conseguir financiamento para a sua candidatura. É bonito ver a generosidade de tantas inocentes empresas como Philip Morris, Merryl Lynch, Enron, Pfizer. Quanto a Hugo Chavez, este tem merecido até hoje a confiança do eleitorado, apesar de ter a oposição das poderosas elites Venezuelanas, que inclusivé dominam e utilizam agressivamente todas as televisões privadas.

No que diz respeito à sua preocupação com a corrupção, se esta fosse genuína devia começar pela sua própria Administração. A lista de favorecimentos, negociatas pouco claras e evidente mau uso de dinheiro estatal não faltam. No Iraque, a atribuição de contratos para a operação de ataque, ocupação e agora de “reconstrução” tem constituído um regabofe para muitas empresas, das quais se destaca a Halliburton, ex-empresa do Vice-Presidente Dick Cheney. No Afeganistão até o director do Banco Mundial para o país, Jean Mazurelle, considera a situação inacreditável. Neste país, “...várias centenas de estrangeiros recebem, também por dia, entre 500 (413 euros) e 1000 dólares. (...) A maioria são norte-americanos, pagos pela ajuda americana e subcontratados através de empresas como a Bearing Point ou a construtora Louis Berger”*. Para se ter uma ideia o Washington Post estima que a construção ou renovação de edifícios tenha custado 4 vezes e meia mais do que seria razoável.


* Público, 1 de Fevereiro de 2006.

Comments:
Viva,

Não nutro nenhuma simpatia nem por Chavez nem pela Administração Bush. O primeiro tem uma visão da democracia muito sui generis e, em rigor, as últimas eleições deviam ter sido canceladas por causa do boicote generalizado a estas. O que está a acontecer na Venezuela é grave e não deve ser minimizado.

Quanto aos EUA a corrupção e, pior, a falta de independência do poder político atingiu proporções inimagináveis. Os exemplos no congresso e na administração de corrupção, desrespeito pelos direitos humanos, entre outros são inúmeros. Suspeito que o caso Halliburton ainda vai-se tornar num case study muito interessante.

Abraço,
 
Na Venezuela não foi um boicote generalisado. Perante a certeza que ia perder, a oposição preferiu não ir a votos e reclamar a força dos seus votos, da abstenção "normal" e de a abstenção eventual por se adivinmhar uma vitória fácil. Em Portugal, só a abstenção "normal vale 40%. É fazer as contas...
 
Quanto aos EUA, que dizer quando num país o lobbying é legal!
 
O lobbying, em português, não é mais do que um grupo de pressão. E existem vários em Portugal: desde as ordens profissionais (corporações), o automóvel clube de Portugal, a CIP, a CAP, os sindicatos, a ILGA, a Abraço, entre tantos outros. É legal fazer pressão em Portugal e nos EUA. O problema nos EUA só é mais complexo porque a pressão é feita duma forma muito mais agressiva.

Mas a pressão tem limites legais, aqui e nos EUA:

- não pode haver compensações financeiras ou materias de quem faz pressão àqueles que são alvo da pressão (nos EUA está-se a descobrir que não tem sido assim. E em Portugal, quem sabe?);

- a pressão é legítima para obrigar o legislador a ficar sensibilizado para alguns problemas mas deixa-o de ser se há influência directa na manipulação das regras e avaliações de concursos públicos (é o que está aqui em questão).

Quanto à Venezuela vivem-se tempos de nacionalizações e de corrupção galopante. Não prevejo um futuro risonho para o país!

Abraço,
 
Não sei os detalhes exactos, mas o lobbying está muito mais elaborado nos EUA e onde é verdadeiramente legal (o caso de Portugal é diferente). Evidentemente que não é por não ser legal que uma coisa não existe, mas mostra o despudor na questão. Não pode haver compensações legais? então e as inúmeras doações milionárias das empresas aos candidatos do senado/congresso e presidenciais? É generosidade inocente?

Quanto à questão da Venezuela:

Corrupção Galopante? A venezuela tinha uma das maiores taxas de pobreza, embora fosse um dos mais ricos, senão o mais rico, dos países da América Latina. Da miséria mais abjecta à moda de Milão e Paris, tinhas de tudo.

A questão das nacionalizações por si não me afecta. Se for roubar a uma elite que parasitou e parasita aquele país, por mim força. Quanto a questões de eficiência é necessário é boa gestão.

Chavez é sem dúvida uma pessoa não consensual, mas querem-no fazer parecer o diabo. E ele não o é.

O que me preocupa mais é que tem-se investido bastante dinheiro em despesas sociais nem sempre reprodutivas de riqueza e gostava de saber a sua sustentabilidade a longo prazo. Mas eles precisam de educação, saúde, habitação,...
 
Ó ovelha, não me digas que não aproveitas a oportunidade de ir a Fátima?
 
Samir,

Sabes qual é a diferença entre os grupos de pressão aqui e nos EUA? Não é tanto legal mas sim a disciplina partidária que faz com que um deputado individualmente não valha nada. De resto os grupos de pressão são legítimos tanto aqui como nos EUA. O que varia é a influência que conseguem ter.

Não confudas compensação com financiamento. O que está proibido por lei é uma correlação directa entre a decisão e o pagamento. Podes dizer que é uma hipocrisia mas, mesmo assim, vários congressistas foram apanhados este ano nos EUA.

Quanto à Venezuela o que tenho ouvido, de emigrantes madeirenses, não é esse paraíso cor de rosa. Ouço falar de muita corrupção, dum imenso controlo estatal e policial sobre tudo, de falta de liberdade de expressão e imprensa, de aumento da criminalidade, entre outras coisas. Mas como não posso concretizar fico-me por aqui, são apenas opiniões em segunda mão.

Abraço,
 
...é de facto tem sido um regabofe tanto no Iraque como no Afeganistão...embora continue a não gostar de Chavez e do seu populismo caudilista barato...esse Rumsfeld já parece o Presidente do Irão...quando abre a boca deveria ser apenas para comer...e não dizer parvoices...obrigado pelas visitas...faço-vos um convite...um abraço...
 
Lobbying:
Nos EUA é mais à descarada, havendo empresas especializadas para isso. Aqui é só algumas sociedades de advogados como a do Vitorino.
:)

Venezuela:
Os meus conhecimentos tb são limitados. Confesso que o estilo de liderança de Chavez não é do meu agrado. Mas olhemos antes para a Venezuela. Antes de Chavez, 80% da pop. estava na miséria absoluta. Os outros 20% tinham petróleo, televisões e todos os luxos possíveis e imagináveis. O que ricardo conta não haveria também anteriormente? Será só exclusivo da era Chavez? Os emigrantes Portugueses defrontam-se com os mesmos problemas que na África do Sul. Numa sociedade desigual eles são a primeira elite/barreira face aos mais pobres devido ao seu pequeno comércio.

Chavez e outros partidos apoiantes parece-me que têm tentado equilibrar mais as coisas. Uma curiosidade: creio que se tentou dinamizar televisões locais para combater o monopólio das privadas e dar alguma voz Às pessoas comuns.

Felgueiras:
Cuidado, não faças nada precipitado ou ela volta a fugir para o Brasil e daí a quatro anos ve-mo-la de novo.
 
Excelente artigo Samir Machel. Motivou o meu último post n'O Quarto Poder, onde "linkei" este artigo... espero que não te importes.

Um abraço
 
Força karim.

Como é a primeira vez perdoo os direitos de autor...
:)

Mas da segunda vou ter que exigir para "make poverty history"!

abraço

samir
 
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