07 fevereiro 2006
Os candidatos nas televisões
Todos reconhecemos o poder dos media e particularmente da televisão nos desfechos das eleições. Assim, é de esperar uma certa correlação entre a exposição mediática das candidaturas e os resultados eleitorais. Analisando o somatório da visibilidade dos diferentes candidatos das últimas eleições presidenciais em todos os canais de sinal aberto (RTP1, 2, SIC e TVI), obtemos o seguinte ranking: Cavaco (24%), Soares (21%), Alegre (19 a 20%), Jerónimo (16%), Louçã (13 a 14%), Garcia Pereira (6%).
Se quiséssemos estabelecer uma relação causa-efeito entre estes dois fenómenos, encontraríamos que nestas eleições a votação eleitoral é função exponencial da visibilidade.
No entanto, esta agregação é apenas parte do fenómeno em análise, tendo particular interesse identificar e tentar compreender os comportamentos dos diferentes canais. Desagregando os tempos das candidaturas, um dos aspectos mais relevantes é que a SIC ignorou Garcia Pereira e dedicou-lhe quatro minutos – um pouco mais que 1% do tempo dos outros candidatos. A TVI deu-lhe mais de 17 minutos (5%). Tal é a disparidade que, para comparações mais adequadas, fui forçado a pôr de lado esta candidatura na análise referente aos outros candidatos. No entanto, a maior parte da análise é consistente em ambos os casos. Há que ter ainda em conta que a duração da visibilidade mediática nem sempre corresponde a qualidade nessa mesma atenção (afirmo-o com base na confrontação de alguns dos resultados com as opiniões de diferentes pessoas e do bom senso).
Na Televisão Pública, Cavaco teve de longe mais visibilidade e Manuel Alegre teve menos relativamente aos outros canais. Será que se tentou dar corda suficiente a Cavaco ou simplesmente se acolheu o então anunciado futuro presidente? Por canais, a RTP1 foi a que deu menos tempo a Louçã. A 2 foi o canal com maior equilíbrio entre os candidatos. No entanto, esta é significativamente mais institucional, dando inclusivamente mais tempo a Garcia Pereira do que a Alegre. Garcia Pereira obtém aqui o seu máximo com 13% do tempo atribuído.
Quanto à SIC, o canal de Balsemão, foi o que deu menos tempo a Cavaco. Estaria a proteger este candidato, mostrando-o, mas não demasiado? Outro aspecto da emissão da SIC foi o canal que deu mais tempo quer a Soares quer a Alegre, tendo sido o único canal que deu mais visibilidade a este último do que ao ex-presidente. Terá sido presente envenenado ou simplesmente destinado a atiçar a rivalidade entre os dois? Louçã teve aqui a sua maior exposição.
Chegando finalmente à TVI, esta dedica um pouco menos tempo a Louçã. Em contrapartida dá mais a Jerónimo (o qual também tem boa visibilidade na 2). Será mais um resultado do efeito Jerónimo?
Em suma, embora os media construam candidatos vencedores, quantidade não corresponde necessariamente a qualidade. Nalguns casos, face ao manifesto desgaste de determinados candidatos, especialmente Cavaco e Soares, parece que a visibilidade foi inversamente proporcional ao apreço dos canais pelos candidatos. Por outro lado, noutras situações, houve um manifesto desprezar de determinados candidatos. Muitas perguntas ficam no ar esperando resposta. Todas as teorias são bem vindas.
* Baseei-me nos dados disponíveis no DN de 18 de Janeiro, retirados de MediaMonitor, Marktest. Estes dados não incluem os dois últimos dias de campanha. Embora haja uma pequena inconsistência entre os tempos atribuídos pelos diferentes canis e o total apresentado pelo DN (este total não iguala a soma das partes), a análise é consistente para ambos os casos.
Comments:
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Tb vi esses dados, alias no site da Marktest, a diferenca entre o Jeronimo e os outros candidatos era enorme...
Eis o link...
Eis o link...
Um outro aspecto que me parece ser tao ao mais importante que este, reside nao tanto no critério quantativo, mas também no critério qualitativo. Confesso que não vi a campanha pelas televisões portuguesas. Por isso pouco me posso pronunciar. No entanto, ecos me chegaram a este respeito. Nomeadamente, a cobertura da SIC à campanha de Mário Soares. O factor idade, provavelmente para pessoas como nós não será um factor importante. Mas quando uma televisão usa e abusa de imagens de Soares cansado, desgastado, enfim...arrasado, pergunto'me se isso não é de extrema importância para a pergunta que deixa latente. Eu não sou feio nem bonito. Sou um tipo normal. Se quiser, pego numa selecção de fotos minhas e quem as vir fica com uma ideia negativa da minha pesssoa. E vice'versa.
Saudações.
Saudações.
Em estudos do media ha quem considere a valencia da reportagem, ha codificacoes para estas coisas e o qualitativo pode ser assim traduzido em quantitativo. Nao sei e' se isso existe e se esta' disponivel. Mas concordo com a intuicao, considerando isso a relacao seria menos exponencial e mais linear...
Pois é Cabral, aí, em larga medida, é onde reside o problema da mainstramedia. Apresentam as "notícias" como sendo algo de inócuo, "objectivo", mas como se sabe, as imagens televisivas não sao a realidade. São apenas um retrato, mais ou menos fiel de acontecimentos selecionados a partir da realidade. É preciso estar muito atento com as televisões, eles adormecem os espectadores e estes facilmente engolem o que lhes é oferecido.
Voces que são da economia, bem que me podia dizer uma coisa: como estamos de concentração de media em Portugal? Quem é o dono da SIC? Quem é o dono do DN e do JN, dois jornais absolutamente da pinta?
Por detrás de um aparente pluralismo, quem são a maior parte dos comentadores "delgados" da nossa Imprensa? São todos muito objectivos e isentos, os gajos, não são?
Aliás, por isso é que lá em caso esse bicho ja era.
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Voces que são da economia, bem que me podia dizer uma coisa: como estamos de concentração de media em Portugal? Quem é o dono da SIC? Quem é o dono do DN e do JN, dois jornais absolutamente da pinta?
Por detrás de um aparente pluralismo, quem são a maior parte dos comentadores "delgados" da nossa Imprensa? São todos muito objectivos e isentos, os gajos, não são?
Aliás, por isso é que lá em caso esse bicho ja era.
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