13 fevereiro 2006

 

O obediente José Manuel Fernandes


Apesar das suas multiplas falhas, José Manuel Fernandes tem uma enorme virtude - respeito e lealdade pelo seu patrão. Quando a SONAE anunciou a OPA à Portugal Telecom, JMF não poupou tinta para louvar a coragem da iniciativa.

Trata-se de uma operação financeira que motiva orgulho pátrio: "numa reacção ao PÚBLICO, um dos empresários mais bem sucedidos na nova geração, Filipe Botton, manifestou-se “orgulhoso” por este movimento, a par com a compra da Galp por Américo Amorim, mostrar “que existe gente com coragem em Portugal e empreendedora”."

Uma medida a pensar no bem da nossa economia. A proposta de Belmiro assegura “três valores que sempre defendeu: maior concorrência, uma estratégia coerente e planos viáveis de internacionalização. Belmiro de Azevedo, tal como Paulo Azevedo, presidente da Sonae.com, sempre criticaram a posição dominante da PT no mercado português" E em imediata contradição, em bom estilo-JMF, "Como a simples fusão entre a PT e a Sonae.com criaria um gigante quase monopolista, ambos avançaram ontem com propostas que visam assegurar, no futuro, um mercado mais aberto à concorrência onde os consumidores sejam melhor servidos e existam mais estímulos para inovar e progredir."

Tudo isto devemo-lo a um homem, um rebelde do capitalismo: "Belmiro de Azevedo é que nunca actuou como “empresário do regime”: mais depressa se comportou de forma desalinhada, porventura desabrida. Teve conflitos com quase todos os governos dos últimos 20 anos, alguns deles bastante sérios e envolvendo acções judiciais."
"A OPA lançada segunda-feira pela Sonae (...) só está ao alcance de um grande empresário. (…) Belmiro de Azevedo, aos 67 anos, abalançar-se ao que considerou ser “a sua maior operação” é uma lição de vida reconfortante num país onde muitos mais novos reclamam a passagem à reforma"

JMF conclui que “Num país apático como Portugal, o choque desta operação pode ser uma excelente terapia.” Qual é o choque? Que os poucos fiquem cada vez mais ricos, que o PUBLICO se associe ao monopolista das comunicações nacionais, e que as acções que o editor do PUBLICO detêm da Sonae GPS aumentem de valor? Com terapias destas não admira que andemos todos doentes.

Comments:
Para uma economia pouca dinâmica como a nossa, em que os resquícios de numerosas nacionalizações perduravam em inúmeras empresas, este projecto é uma lufada de ar fresco.

Só teme neste negócio, os diversos conjuntos de interesses que ao longo de anos cresceram acoplados ao "papá estado".

Quanto à questão da concorrência, deixa-me que discorde da tua opinião. Primeiro de tudo estou relativamente descansado com isso, já que a Autoridade para a Concorrência é deveras eficaz nesse campo. Por outro, não esqueçamos que a PT teve sempre o monopólio das comuicações fixas em Portugal. O facto de pertencer ao Estado dava-lhe regalias fiscais, que tornavam o clima de concorrência muito complicado. Pode não parecer, mas a concorrência não piorá assim tanto. Por outro lado, resta saber os objectivos para a PT após a compra, caso esta se realize...

Abraço

Sobre este tema, relembro este post que escrevi:

http://bodegas.blogspot.com/2006/02/porque-so-boas-notcias.html
 
Caso a OPA se realize nao sou optimista quanto 'a reaccao da Alta Autoridade. Preve-se o argumento que o mercado de referencia para a nova-PT nao sera somente o nacional, antes o Europeu. Se dai nao der nada, entao conhecemos o tribunal de recurso que e' a Comissao Europeia que inevitamente agira em prol da "livre concorrencia", neste caso em apoio do monopolista.
Nao ha outro motivo para esta OPA senao consolidar uma posicao monopolista (ou "quase monopolista" nas cautelosas palavras de JMF). No dia seguinte 'a apresentacao da proposta, a SONAE detalhou aos seus investidores quais as mais valias da uniao TMN - Optimus. E' que nem esta nas entrelinhas. E' publico.
 
Acho que a tua visão é demasiado simplista da realidade. Sinceramente não compreendo porque defendes que a Comissão Europeia irá apoiar um moopólio. Esta comissão já mostrou, e já é uma herança, que o princípio da livre concorrência é para manter!

A PT como está constitui um monopólio, um monopólio controlado pelo Estado em que a concorrência é arrasada pelos benefícios que o Estado garante à PT. Achas mesmo que irá piorar se esta for privatizada?

Juro que não entendo esta aversão às privatizações. Dão-me os mais diversos argumentos, mas simplesmente nenhum me convence...
 
Nao ha' muita diferenca entre um monopolio privado e um monopolio privado com golden shares. A minuscula diferenca e' que enquanto o Estado tiver a golden share, desempenha um papel na definicao da politica comercial e financeira da PT, e portanto e' responsabilizavel publicamente por esta, pode ser questionado no parlamento e nas urnas.

Sem golden share o poder de mercado da PT so' tem de responder aos accionistas e estes so' pedem lucros seguros. Mas quem alimenta os lucros sao as rendas da sua hegemonia comercial, nao e' qualidade de servico, nao e' inovacao, e' pirataria. E' um negocio sem risco.

Nao sera mais simplista crer que uma vez entregue o controlo economico exclusivo aos privados, a economia se ordena em espontanea perfeicao?
 
A. Cabral,

Não estava à espera de uma reacção diferente de JMF.

Não sou tão optimista quanto ao BRuno no que toca à "lufada de ar fresco" mas, passado o impacto inicial, agora resta esperar para ver as reacções das várias instituições para perceber se o desenho final desta operação vai ser positivo ou não para o país. Ainda vai haver muitas alterações ao que está discutido como cenários prováveis actualmente. Só acompanho o Bruno na necessidade de acabar com as "Golden Shares", uma distorção sem sentido em qualquer economia.

No balanço disto tudo o que será positivo é uma maior concorrência e um não desinvestimento no exterior. Nenhum destes pressupostos estão, para já, assegurados. O que é um facto é que a PT não tem uma liderança clara e que pratica preços, em média, muito mais altos que a maioria dos países da UE.

Abraço,
 
Ricardo,

Nao acreditando numa natureza economica, num estado mais puro do corpo economico, nao acho que o termo apropriado seja "distorcao". Qualquer economia tem uma fundacao institucional e historica - a intervencao estatal por si nao e' nem mais nem menos salutar que a accao privada. E muitos outros mundos sao possiveis...

Abraco,
 
Se com as três operadoras móveis a ANACOM referiu que os preços continuavam muito acima do praticado noutros países e que não mostravam tendência de descer, imagine-se agora com duas...
 
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