06 fevereiro 2006

 

Microsoft em Portugal II


Já por aqui se lançara umas farpas às recentes notícias da Microsoft em Portugal. Agora que a febre da visita do Bill Gates parece ter passado, façamos uma análise do que se passou. Bill Gates visitou Portugal na qualidade de executivo da Microsoft, e não na qualidade de presidente da fundação de beneficiência que criou com a mulher. As notícias dos protocolos assinados com o governo português que vão permitir a alguns milhares de trabalhadores terem formação em informática suportada pela Microsoft (totalmente? - confesso que não conheço este pormenor) é, antes de mais, um negócio, e não uma acção de beneficiência como por vezes a nossa comunicação social acabou por transmitir, ao confundir frequentemente as duas situações. E qual é o interesse da Microsoft em oferecer formação? Obviamente, a formação será feita nas aplicações Microsoft, e isso criará uma dependência dos produtos de Bill Gates. Portanto, Bill Gates veio a Portugal subjugar a população portuguesa, torná-la dependente, o governo agradeceu e a comunicação social aplaudiu. A verdade é que a Microsoft precisa de assegurar estes mercados, sobretudo devido ao desenvolvimento do software livre que começa a sair da sua influência - veja-se o Linux ou o fenómeno Firefox. Há poucos dias, o sociólogo espanhol Manuel Castells comentava ironicamente em Lisboa que a tendência da sociedade de informação era a de criação de software gratuito. A única excepção era a Microsoft e tudo o que lhe está associado, e o problema é que essa é uma excepção que domina o mercado...No final, Bill Gates saiu de Portugal com a imagem de grande filantropo, que veio oferecer formação à nossa mão de obra pouco qualificada, quando na verdade veio assegurar um negócio de vários milhões de euros durante anos. Pergunta final: em tempo de "vacas magras", de congelamento de salários, despedimentos e aumento de impostos, quanto poupam em licenças de software os países europeus que usam programas "open-source" na sua administração pública?

Comments:
Isto lembra-me a história da restauração do Parque Meyer. Como o projecto era uma palhaçada, chama-se uma figura de cartaz (não importa o preço) para tentar dar credibilidade. O mesmo se aplica ao Plano Tecnológico.
 
O Plano tecnologico e' de facto como todas as obras do governo nacional. Orcamentadas sempre ao licitador mais careiro, por motivos que ninguem consegue descortinar...

Se estes politicos recebesse depois umas recompensas por estes servicos em prol do interesse privado, ainda compreendia. Mas em tantos casos a retribuicao roca o ridiculo, lembre-se o Paulo Portas condecorado pelo Rumsfeld numa cave escura do Pentagono pelo seu apoio a guerra no Iraque. E' um servilismo que quase dispensa recompensa.
 
Não me parece que isto tenha sido uma fachada do Plano tecnológico. Acho que este vai mesmo acontecer, sobretudo porque o interesse é sobretudo do lado da Microsoft, provavelmente mais do que do lado de Portugal. E vai-se realizar sobretudo porque não é uma promessa política e não depende dos políticos para ser realizado. Agora, concordo que a vinda do Bill Gates a Portugal foi muito bem capitalizada pelo governo, também para legitimar o plano tecnológico.
 
Mas o argumento do anonimo acho que era esse, pelo menos e' o meu: este plano tecnologico e' uma quimera, e' um golpe de marketing politico. Sendo que o PE nao existe e nao vai existir, passa a depender destes eventos politico-mediaticos como trazer o Bill Gates a Portugal com grande alarido. E' quase como dizer que o Bill Gates patrocina o Plano Tecnologico do Engenheiro Socrates.
 
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