27 fevereiro 2006

 

Estado de abandono


O abandono dos idosos pela família e pela sociedade é um dos piores problemas do Portugal de hoje. Uma das mais tristes realidades relaciona-se com o abandono nos hospitais de gente que trabalhou uma vida inteira e a quem não é garantido o mínimo de dignidade. A notícia seguinte dá-nos uma pequena ideia desta sórdida e cruel realidade.



"São cada vez mais os idosos que chegam aos hospitais com problemas de saúde e ali são abandonados a ocupar camas e a sofrer com este abandono que, em alguns casos, só acaba com a morte.

O Hospital Fernando Fonseca (Amadora-Sintra) contabiliza, pelo menos, um «caso social» por semana.Trata-se de idosos que dão entrada na urgência hospitalar com problemas associados à idade ou situações crónicas agudizadas e que, após alta clínica, ninguém os vem reclamar. Luís Cunha é o director do serviço de urgências do Hospital Fernando Fonseca e, em declarações à Agência Lusa, mostrou-se preocupado com esta situação, que traduz uma cada vez maior «desresponsabilização pelos idosos».

Uns chegam acompanhados por familiares - que depois nunca mais os vêm ver e muito menos buscar -, outros pelos serviços de emergência médica e, como vivem sozinhos, não têm condições para regressar a casa. Outros ainda são deixados pelas instituições (lares) que alegam não ter condições clínicas para os acolher. Chegam aflitos e assim permanecem, apesar de curados das maleitas físicas. Em alguns casos, como explicou Luís Cunha, ganham depressões por terem o discernimento suficiente para entender que foram abandonados. Não é que falem sobre este abandono. Sentem-se envergonhados e cultivam o silêncio em redor deste assunto. Outros, os que estão inconscientes por causa das incapacidades físicas e mentais resultantes da doença que os conduziu ao hospital, estão livres da consciência deste desamparo. Por esta razão, desde Novembro que tem aumentado o número de idosos internados e de altas clínicas que não são seguidas da natural saída do hospital e transformam os doentes em casos sociais.

O Hospital Fernando Fonseca não é o único a braços com este problema. No Hospital Curry Cabral, os casos sociais são uma verdadeira dor de cabeça para o presidente do conselho de administração. Pedro Canas Mendes contou à Lusa que este hospital contabiliza dezenas de casos sociais, alguns dos quais com alta clínica há meses. O Hospital Curry Cabral, em Lisboa, tem actualmente cerca de dez por cento das suas camas ocupadas com estes casos sociais. «Não os podemos pôr na rua, porque somos humanos e a nossa função é salvar vidas», disse. No Hospital de São João, no Porto, um quarto dos cerca de 450 doentes atendidos diariamente na urgência tem mais de 65 anos e esta percentagem tende a aumentar.

de Sandra Moutinho, para Lusa
Fonte: Diário Digital "

Comments:
De todas as sociedades da História a contemporânea é aquela que menos valor e respeito atribuiu aos idosos. É certo que isso se deve em boa parte ao facto de terem sido antes raridades, enquanto hoje são comuns, mas a crescente desumanização e a crescente e doentia adoração dos ideiais da Juventude e da Beleza Física promovidos pelos Media tb têm a sua quota parte... O que há que mudar, são os paradigmas. O da inutilidade do Idoso (porque não lhes dar um papel político especial como faziam muitas sociedades tradicionais) e da sua fealdade (abatendo o mito da beleza juvenil)
 
Rui,

A par com as razoes culturais, vejo tb razoes economicas. Parece-me que quando a forca nos foge dos bracos, quando ja nao podemos pagar com trabalho para existir, tornamo-nos "inuteis" para esta sociedade, deixa de haver lugar. Precisamos de uma sociedade que se oriente por mais do que o primado da producao alienada.
 
Spartakus: Se as famílias falham devido à crescente individualização e outras tendências, mas espero não estares a defender o princípio de solidariedade defendido por este governo. É um retorno aos tempos tribais onde a pessoa está dependente da sua família e o "Estado" lava as mãos.
 
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