03 fevereiro 2006

 

Caricaturas



Confesso que demorei até conseguir apontar no papel as ideias que tinha sobre o tema. E aqui as deixo ao frio, ainda mal cozinhadas da minha cabeça.

A liberdade de expressão deve ser utilizada como qualquer outra liberdade, as quais sem excepção têm regras. Sem querer cheirar a mofo, "a minha liberdade acaba onde a dos outros começa". Por este mesmo motivo existem leis, desde a divulgação de propaganda nazi até à difamação. Não se trata de atentar contra a liberdade de expressão, mas de uma defesa das outras liberdades. Contra uma cultura de ódio e difusão de intolerância, ou simples defesa do nome.

Ao ouvir pela primeira vez relatos da polémica senti apoio pela causa dos caricaturistas e do jornal, de início pareceu-me semelhante à controvérsia do assassinado Theo Van Gogh. Só mais tarde tive acesso às imagens. Nada a ver. A minha primeira pergunta foi: "Porque liberdade é que se luta nestes cartoons?". A maior parte das caricaturas divulga um profeta terrorista, assassino e belicoso. Procura-se adicionar injúria a blasfémia. As imagens não me parecem um exercício de liberdade, mas de agressão às comunidades islâmicas. Não é um esforço de comunicação, mas de insulto. Não se levanta qualquer tipo de questão (como o cartoon de António abaixo), simplesmente cataloga-se de assassino a principal figura do Islão.

É para isto que os cartoonistas dinamarqueses procuram a sua liberdade? Para difamar um culto? Nem há um ataque a uma organização, sequer a uma pessoa, injuria-se toda uma cultura. Põe-se cornos em Maomé, metem-se facas na mão, bombas na cabeça. E conhecendo ano a ano cada vez mais a política de "tolerância" que os europeus oferecem às comunidades islamicas, o acto não me surge como de liberdade, mas de uma exteriorização de toda a culture-gap que o politicamente correcto tenta esconder. Aquelas não são caricaturas de Maomé, são caricaturas da liberdade de expressão.

Comments:
bem visto. Ha algo de provocatorio nesta historia toda, nao tanto na serie inicial mas na ansia de os ver republicados em tudo o que e' jornal europeu.
 
A distincao e' entre desenhar o cartoon e ve-lo publicado, com liberdade para essa expressao; e distinto, sabendo que o cartoon ofende, republica-lo nas primeiras paginas dos jornais europeus. Isso ja nao e' liberdade de expressao, e' insulto intencional.
 
mesmo que tarde, o meu contributo está no dia 6 de Fevereiro.
 
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