07 fevereiro 2006
Betty Friedan (1921-2006)
Escreveu um dos mais famosos livros da literatura feminista americana – “Feminine Mystique”. Com repercussões a todos os níveis da sociedade americana, levantou o véu e mostrou o óbvio mas calado descontentamento por detrás da mulher de classe média. Aquela que tendo estudado muitas vezes para além da licenciatura, ou que tendo desistido de estudar apesar de ter a possibilidade de o fazer, embarcou no sonho americano de ser mãe de família.
Com a ajuda das tecnologias do pós-guerra que então vieram facilitar o trabalho doméstico de muitas mulheres, mais a mãozinha pródiga da publicidade a apregoar a felicidade de fazer da educação dos filhos e da gestão da casa uma profissão que realiza toda e qualquer mulher, criou-se uma geração de mulheres insatisfeitas. Mulheres que, apesar do que tudo à sua volta parecia indicar, não eram felizes, não se sentiam realizadas, e, mais que tudo, não percebiam porquê pois todos lhes diziam que tudo tinham para ter alcançado o céu na terra.
Betty Friedan desvendou este mistério e deu um nome à imagem construída da mulher feliz entre os tachos, os TPC dos filhos e o bife do marido: a mística feminina. Esta mística que aponta a direcção em que os sentimentos devem ir, mas que esquece que estes, teimosos, não desaparecem.
A interrogação sobre este fenómeno iniciou-se com a sua própria situação de mãe de três filhos que tenta conjugar com a actividade profissional. Começando por enviar questionários a antigas colegas de escola e analisando as suas respostas, embarcou então na aventura de entrevistar algumas destas e outras mulheres em diferentes fases das suas vidas. Raparigas prestes a entrar na universidade ou nos primeiros anos do ensino superior que tentavam evitar perguntar-se quem eram e o que queriam ser; mulheres a quem a mística feminina esmagava mas por não ter nome, era apenas um mal invisível; e mulheres que ao entrarem nos quarenta se deparavam com a ausência dos filhos e assim com o desaparecimento de uma das supostas razões da sua existência.
Conheceu mulheres exímias na arte de eliminar toda e qualquer nódoa recorrendo a truques caseiros e que cozinhavam fantásticas tartes de maçã. Mulheres que achavam que eram felizes apenas porque os maridos e filhos o são. Mas eram também mulheres que sentiam uma insatisfação inexplicável, fazendo as delícias dos psicanalistas e da indústria farmacêutica. Mulheres que choravam sem saber porquê, mulheres que apesar de rodeadas de conforto e apesar da felicidade aparente, eram, apesar de tudo, infelizes.
Betty Friedan mostrou assim como os políticos, a comunicação social, as agências de publicidade, conseguiram criar uma imagem da mulher que em pouco ou nada correspondia às suas reais aspirações. E que consequentemente provocava sofrimento. O maior feito de Betty foi mostrar que não havia nada de errado com as mulheres que viviam estes sentimentos de insatisfação. O problema estava na imagem – a mística feminina - a que elas tentavam corresponder. E que simplesmente não podia ser descartado como um problema de “ajustamento ao papel feminino”, ou de bloqueio à sua “realização como esposa e mãe”.
Ao fazê-lo, contribuiu para a consciencialização de muitas mulheres e não só. Nas suas próprias palavras: «My answers may disturb the experts and women alike, for they imply social change. But there would be no sense in my writing this book at all if I did not believe that women can affect society, as well as be affected by it; that, in the end, a woman, as a man, has the power to choose, and to make her own heaven or hell.»
Comments:
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Ha uns dias vi num postal(! fonte segura de cultura do mais algo calibre!) uma citacao que deve ser classica mas que desconhecia: "I myself have never been able to find out precisely what feminism is: I only know that people call me a feminist whenever I express sentiments that differentiate me from a doormat, or a prostitute." -- Rebecca West, 1913. O que toma a minha atencao e' a data, 1913!
As resistências têm uma longa história, um longo percurso de conquistas e eperemos que um longo futuro.
também eu não sei bem o que é ser feminista. mas a definição acima certamente está próxima daquilo que vou sentindo nos dias que correm.
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