21 fevereiro 2006

 

Banir a mentira


David Irving pseudo-historiador inglês foi julgado e condenado por um tribunal Austríaco a três anos de prisão pelo crime de ter negado a ocorrência do Holocausto. No final dos anos 80, Irving visitou a Áustria para pregar que a morte de milhões de judeus era um invenção, e que Auschwitz nunca tivera câmaras de gás. A condenação de Irving, ao que sei, é a primeira efectuada com um conjunto de novas leis que a maioria dos países da Europa Central redigiram para defender a memória do Holocausto.

Eis uma coisa bem feita! Este senhor faz parte de uma legião neo-nazi que quer apagar os crimes do fascismo europeu no meio de um incompetente revisionismo histórico. Para cúmulo da mentira e da manipulação, ensina que o Fuhrer e a ideologia nazi foram vítimas de uma conspiração internacional de governos e académicos. O lugar dele é calado e na prisão. Só me queixo que a justiça austríaca, que se mostra tão firme com este cidadão britânico, não reproduza a mesma determinação acusando os nazis que acolheu em exílio no seu território - não é um pasquim esquerdista que nota a dualidade de critérios, é o centro Simon Wiesenthal.

Irving declarou-se culpado, e de seguida arrependido. Após a sentença, Irving declarou-se pasmado, e de seguida irado. E já temos quem o faça de mártir pela causa da liberdade de expressão.

Por propaganda dos meios de comunicação social, do qual José Manuel Fernandes se faz pontífice em Portugal, a liberdade de expressão é hoje entendida como uma não legislação, como um deserto legal. Isso é obviamente falso. O que é dito e não dito não é livre em absoluto, há quem decida o que se diz e não se diz, há escolha. Quem detém os meios de produção da expressão em massa é quem decide, a liberdade de expressão é privada. Os media detêm o monopólio da palavra, da imagem e do som, e a escolha recai na ditadura do editor. Assim se entende a paixão de JMF e seus compinchas em manter a expressão não legislável, para que o Estado não infrinja no seu monopólio que é todo o seu poder.

A minha posição é que a decisão sobre o que é legítimo ou não expressar, deve sair dos gabinetes dos editores e ser sujeita a debate político. Mentir sobre os crimes do nazismo e do fascismo, querer apagar a verdade histórica, atenta contra as nossas liberdades e deve ser publicamente banido. Se pudéssemos legislar contra a mentira, talvez hoje não se morresse o que se morre no Iraque, talvez não tivéssemos os governos que temos, talvez não andássemos confusos perante as convulsões deste mundo.

Comments:
É bem Cabral, é bem!
 
neste caso, do julgamento do Nazi, tb se diz e contradiz, nao e' uma censura de palacete, e' um caso publico. Nao se pode aceita que a mentira, e a manipulacao desta extrema direita ande por ai impune...
 
Pois! Os austriacos para condenar o nazi ingles tem coragem mas para condenar os seus pia mais fininho.
 
Podemos pensar mais facilmente sobre este assuno (e o dos cartoons que é similar)partindo de um principio:

- A nossa liberdade acaba quando interfere com a liberdade dos outros.
- Interfere com a liberdade dos outros, entre outras situações, quando incita ao ódio. A expressaõ e difusão da ideologia nazi ou neo-nazi deve ser punida legalmente pois incita deliberadamente ao ódio.

No caso dos cartoons, há apenas que fazer uma pergunta: Incita ao ódio?
 
A unica questao que coloco e' se o termo odio nao e' demasiado afectivo. Odio e' um sentimento demasiado individual e pessoal para o discurso politico.

Temos alternativas que me parecem melhores, e que resultam igualmente bem para os casos recentes:
- incita ao racismo?
- incita 'a xenofobia?
 
Nao me parece que sejam coisas minimamente similares, nbem pelo contrario e bem que gostaria que me explicassem onde esta a propalada similaritude.
 
daviduskas,

o Irving diz que os judeus sao um povo conspirativo e manipulador, e isto e' injurioso e xenofobo.

os cartoons dizem-nos que os muculmanos sao um povo terrorista e violento, e isto e' injurioso e xenofo.
 
A minha opinião já foi expressa na polémica dos cartoons. Genericamente, não acho que se deva censurar legalmente. Acho preferível haver uma censura moral e política e cortar eventuais apoios.

"Se pudéssemos legislar contra a mentira, talvez hoje não se morresse o que se morre no Iraque, talvez não tivéssemos os governos que temos, talvez não andássemos confusos perante as convulsões deste mundo."

Mas quem é que legisla? Não somos nós... E quem o faz, faz com que interesses?
 
Nao necessariamente Cabral. A leitura que fazes dos cartoons é, na minha opinião, excessiva. Eu já vi os 12 cartoons, e a leitura de conjunto que faço é que em nome do Profeta, da Religião, actos terroristas se têm cometido, o que é inteiramente verdade. È uma leitura como qualquer outra. Não vejo nada neles que diga que os muculmanos são terroristas ou violentos. Enfim, cada um enfia o turbante que quer...
 
E tb ha cristaos que aterrorizam clinicas anti-aborto, isso da motivo para chamar a todos os cristaos terroristas?

A leitura toda a gente percebeu qual era - dado o contexto pos-11 de Setembro, dado o que se passa agora no Iraque, dado o que se passou em Madrid e em Londres, dadas as accoes xenofobas dos governos europeus, na holanda, na dinamarca... - islao e' igual a terrorismo sem diferenciacao.
 
Machel,

Entao qual e' a solucao? Como se trava/controla a censura privatizada da comunicacao social? Como se socializa a "liberdade de expressao"?
 
Nacionalização da censura! Nada de isso estar nas mãos dos privados. A manipulação da informação existe há séculos (desde que há informação manipulável, creio), portanto, a haver censura, que seja feita pelo poder político, que obtêm (teoricamente) a sua legitimação no povo. Os privados legitimam-se pelas cotações das acções e pelo saldo bancário.
 
Para amílcar:
Eu devolvo-te a pergunta:
Quem legisla o que é aceitável, a maioria do Sócrates? (à parte: o gajo é de uma arrogância extrema; aconselho verem uma sessão parlamentar.); nós não seremos certamente.

Govan:
Nacionalização da censura tivemos, e continuamos a ter na institucional RTP. Se quiseres uma melhor, mudas-te para vizinha Espanha e terás canais de TV que nem se refere ao regime de Franco como Fascista. Chama-lhe Franquista...

A saída é criar meios alternativos de divulgação...
 
Podes sempre criar alternativas, essa estrategia sem duvida que faz muito. Mas existindo as margens, no mundo alternativo, nao vai mudar o mundo se nao houver ataque ao poder na sua sede. E o que fazer entao? Mudar os editores com malta mais decente? Nao e isso manter a estrutura privatizada do poder?

Mudar a estrutura para mim e' recriar a escolha como processo publico, assumidamente politico. A ideia e' SOCIALIZAR a escolha da comunicacao. Nos meios que temos isso pode ser legislar. Posso nao ser o legislador, e o legislador em funcoes pode ser um pulha, mas ao menos que a coisa seja discutida publicamente! Agora a maior parte deste mundo vive no falso conforto de uma liberdade que nao existe, cujos limites sao definidos na obscuridade dos gabinetes editoriais.

E esta logica nao nos e' estranha, a nossa constituicao republicana redigida ja no muito traido Abril de 74, censura as actividades politicas fascistas e neo-nazis.
 
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