20 fevereiro 2006

 

24h para destruir o estado de direito


A promiscuidade entre a indústria de cinema e televisão e poder político dos EUA é algo conhecido e históricamente registado. Durante a guerra fria, os inimigos eram sempre os russos, fosse qual fosse o tema do filme. Nos anos 90 aparece o Saddam, ridicularizado até na saga "Ases pelos ares". Hoje em dia, é preciso legitimar a "guerra contra o terrorismo" e demonizar o muçulmano (ou o árabe, muitas vezes nem se faz a distinção). Acompanhando com alguma regularidade uma série de sucesso internacional, "24", que por cá passa na :2, vemos mais uma vez o mecanismo a funcionar. Para quem não está dentro da história (quarta série), um grupo terrorista (árabe, claro) esteve 5 anos a planear um atentado nos EUA, onde tentam provocar uma fusão em todas as centrais nucleares do país. A história parece ter sido encomendada pela administração Bush. Além de cultivarem o ódio e a desconfiança do "outro", neste caso, mais uma vez, do árabe, alimenta-se ainda mais a paranóia de que qualquer um pode ser terrorista. Afinal, na série, todos os membros viviam no país há pelo menos 5 anos e eram membros destacados e exemplares da sociedade. Para legitimar ainda mais a política de Bush, é frequentemente repetida a ideia de que terroristas não têm direito às regras normais de um estado de direito. Não há advogados, há prisões sem acusação, interrogatórios onde se legitima a tortura com a necessidade de salvar o país...É a política do ódio, do olho por olho, é a ideia de que com "essa gente" não se negoceia, extermina-se, numa série que está a ter um enorme sucesso não só nos EUA, mas por todo o bloco ocidental...

Comments:
será que "24" também recebe prémios de hollywood...?
 
Antes de mais devo dizer que gosto bastante da qualidade visual e de escrita da série. Mas, por acaso, ainda ontem tinha comentado com um amigo que a banalização da tortura e o sentimento de desconfiança que a série ajuda a gerar é negativa.

Todos os prisioneiros são torturados selvaticamente por motivos de interesse nacional. Onde é que já vimos isto?
 
já recebeu prémios pelo menos ligados à televisão...

ricardo:
alguns dos aspectos inovadores da série ajudam a explicar o seu sucesso. Mas a sua mensagem é ela própria terrorista e vergonhosa. Qual será será o sentimento de qualquer pessoa que seja arábe ou que possa ser confundida como tal (portugueses incluídos)?

Será que se aplicará alguma lei contra este terrorismo?
 
Bem visto Colega Mbeki...
 
Essa leitura facciosa da mensagem da 24 não corresponde nada ao que eu vi na primeira série anual da mesma, salvo erro, em que os àrabes eram todos inicialmente considerados os maiores suspeitos mas depois descobre-se que estavam inocentes. Aliás, a situação de xenofobia actual nos EUA é mesmo criticada quando o agente secreto de um país arábe que ia tentar deter a bomba é morto por um gangue de amaricanos brancos.
 
Rotular o texto como faccioso recorrendo a uma temporada diferente não me parece muito correcto do ponto de vista epistemológico. Há aí uma falha grave de lógica. O meu comentário refere-se à quarta (4ª) temporada, como aliás é explicitado no texto, nunca vi nem conheço a história das temporadas anteriores, ou sequer da actual (a quinta, tanto quanto sei). Reportando-me aos episódios a passar actualmente na :2, o texto não me parece nada faccioso. Se é, argumente-se contra usando dados da QUARTA temporada...
 
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