18 janeiro 2006

 

A direita amordaçada


É frequente o lamento que o “politicamente correcto” é uma esclerose do discurso político. (Não tenho a jeito nenhum exemplo para ilustrar este tique, mas é tão frequente que me descuido de referencias, leia-se ou ouça-se o Pacheco Pereira, ou outros notáveis e frequentes comentadores da coisa nacional.) A reclamação considera que o debate politico é asfixiado pelo pudor do “politicamente correcto.” Pede-se com a queixa maior liberalidade no discurso, porque sem esta as ideias são apresentadas constrangidas e deformadas. O “politicamente correcto” é entendido por estes senhores com uma vil censura ao livre pensar (ou pelo menos à expressão deste pensar). É um corpo estranho e imposto.

Mas a que se refere afinal este “politicamente correcto”? Tal como se o conhece não é mais que a substituição do vocabulário xenófobo, homófono, racista e sexista por outro mais neutro. Abandonar o novo vocabulário seria o retorno ao insulto é a agressão pública. O vocabulário “politicamente correcto” só pode pois ser imposição para quem está a salivar pelo insulto. Só a estes é que censura.

O problema do politicamente correcto não é deformar o debate politico. A sua fragilidade reside antes em não ser mais que uma capa que se veste por conveniência, que não comunica nem sinceridade nem convicção. Sabemos pelos lamentos de quem quer dispensar o pudor do “politicamente correcto” que mesmo que o insulto seja hoje interdito, ele não deixa de ser pensado e treme de desejo para ser anunciado.



   

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