10 janeiro 2006
Comandante Ramona (1959-2006)
Não se lhe sabe o nome de berço, conhecemo-la como Comandante Ramona, líder do movimento de Chiapas. É com cuidado interesse pela política do simbólico que o movimento zapatista esconde a identidade dos seus combatentes. Pragmaticamente, o passa-montanhas protege a família e amizades do rebelde das represálias dos poderosos. Nesta nova identidade apaga-se todo o passado do indivíduo e cria-se um novo ser de luta e obstinada determinação. São gestos que parecem chocar com o nosso apurado ocidental respeito pela individualidade mas que historicamente não são novos. Em todos os movimentos de revolta, tanto nos motins agrícolas medievais como nos movimentos operários, se procurou substituir as identidades das sociedades opressoras por identidades inventadas e emancipadoras.
O Sub-Comandante Marcos, a face pública do EZLN (Ejército Zapatista de Liberación Nacional), repetia comummente que era somente um sub-comandante. A legítima liderança do EZLN é etnicamente índia. Ramona era uma dos membros do Comité revolucionário dos índios Tzotzil e Tzeltal Maias. Foi ela que dirigiu a famosa incursão a San Cristobal de las Casas em 1994, que anunciou o movimento zapatista ao mundo. Ramona encabeçou as primeiras negociações com o estado mexicano em Fevereiro 1994. Em Outubro de 1996, desrespeitando uma proibição do governo, Ramona participou num congresso do movimento índio na cidade do México e discursou para 100,000 manifestantes na principal praça da capital. O cordão humano que a protegeu das forças da ordem, respondia ao seu discurso: “Todos somos Ramona.”
Ramona faleceu na sexta-feira de insuficiência renal. Morreu a caminho do hospital de San Cristobal porque a região onde nasceu (viveu e morreu) habitada pela população indígena permanece sem direito a assistência médica - um entre vários direitos sociais que lhes são negados pelo neo-colonialismo mexicano.
|
|
|
|