11 janeiro 2006
Cabeçudos
As vias públicas de Portugal estão ladeadas de cabeçudos. São o Aníbal, o Mário, o Manuel, o Jerónimo e o Francisco (em ordem de sondagem) a sorrir para a estrada e a exibir com orgulho as suas frondosas testas. São grandes as cabeças para denotar grandiosos intelectos.
São aparentemente simples os cartazes, são aparentemente iguais: umas breves palavras para serem lidas de relance, sem grande consequência, banalidades todas elas: “rigor”, “confiança”, “determinação”, “presença”, “vitória”, ocuidades; e um rosto a sorrir como quem quer fazer-se simpático. Mas há mais, além do se vê num breve olhar, note-se a pose ou o vestuário, note-se também no cenário.
É curioso que o Jerónimo se apresente engravatado mas que Mário oculte a sua gravata, ou que o Francisco exiba a ausência da mesma. A informalidade à esquerda parece ter ainda significado. Talvez para compensar o tom sério da gravata, Jerónimo é aquele que mais oferece do seu corpo, do seu tronco de ex-operário, é o que menos pontifica a testa e a intelectualidade simbólica da mesma. Mas na pose, o cartaz mais denso de significados é o de Aníbal. Neste o candidato debruça-se a sugerir uma intimidade que nunca teve com a populaça portuguesa, aqui centraram a sua fronte sobre uma esfera armilar a lembrar a auréola de um santo – é para nos convencer que se trata de um Messias?
E o que dizer da semiótica dos cenários para estas ilustres cabeças? Aníbal porque pretende salvar a nação da ruína mostra-se em contraste com uma patriótica bandeira. Com semelhante fundo abandeirado está o Francisco, mas a bandeira deste é vermelha e clama pelo olhar à esquerda. Já Mário prefere um fundo branco, querendo significar a imputada universalidade da sua candidatura e a alva pureza do seu currículo (para lavar o passado?). Jerónimo em matéria de cenários tem duas personalidades: a aludir que não tem encargos históricos mostra-se em fundo branco, mas em localidades mais militantes tem também um fundo vermelho de combatividade revolucionária - terá Jerónimo dois públicos? Finalmente, em azul real, porque se trata de nobreza intelectual temos o poeta Alegre.
Ai, como é monótono este marketing político!
Comments:
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Ó Amílcar esqueceste é que lhes andam acrescentar uns bigodes.
Não se faz, não se faz! Acrescentar pilosidade não desejadas é uma crueldade...
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Não se faz, não se faz! Acrescentar pilosidade não desejadas é uma crueldade...
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