13 dezembro 2005

 

Nobel (2) nuclear só para alguns


O nuclear está de regresso à agenda. A recente subida dos preços do crude recolocaram a energia nuclear na lista das rentáveis alternativa às termoeléctricas. Há quem argumente que energias renováveis têm que ser complementadas pela nuclear para cumprir com os compromissos de Quioto, reduzindo assim emissões de carbono. Finalmente, o prémio Nobel da Paz deste ano foi para o “fiscal do nuclear,” o senhor Mohamed ElBaradei e a IAEA. Estes últimos são honrados pelos seus esforços em: bloquear os usos militares da energia nuclear e promoção do uso seguro desta tecnologia. É obviamente pelo primeiro motivo deste mandato, o motivo policial, que conhecemos o senhor ElBaradei.

Este podia ter sido um mau ano para os “fiscalistas” das Nações Unidas. A ausência de armas de destruição maciça no Iraque parecia colocá-los no papel de pressagistas apocalípticos nas mãos dos Norte-Americanos. Felizmente, em bom tempo os media procuraram uma distracção para encobrir as vergonhas do Iraque e inventaram uma nova ameaça, o Irão. Chama-se então o senhor ElBaradei e a sua idónea proveniência egípcia para certificar que a suspeita é devida. A IAEA fez saber que países definidos como “extremistas” (sempre no oriente, porque no ocidente prima a ponderação) não têm o direito de usar energia atómica, qualquer que seja a finalidade.

O discurso do ElBaradei em Estocolmo teve um pouco para todos. À esquerda, ofereceu um diagnóstico dos males que a pobreza engendra, castigando os dois pesos e duas medidas do primeiro-mundo que chora os milhares de vítimas do 11 de Setembro mas banaliza a morte dos milhões nas guerras civis de África. À direita, lamentou que a natureza humana, testemunhada num passado histórico de guerras, nos prepare um futuro pouco diferente. A par, manifestou apreensão pelos “extremistas” e pelas suas maquinações com armas de destruição maciça. Para este hábil diplomata, este é um mundo de religiões que não se entendem. São estas as coisas que o Sr. ElBaradei nos vai dizendo.

Será talvez por hábito social ou preconceito que tendemos a considerar a palavra dita como fundamental e principal, mas a palavra não-dita também merece referência. Ademais, porque este prémio Nobel premeia também o silêncio. 1) O desarmamento nuclear está hoje posto de lado, desde os já distantes anos 70 e 80 e em esforços encetados pela União Soviética, que não se assumem novos acordos de não-proliferação. 2) Pelo contrário, as grandes potências militares continuam a adicionar ogivas ao seu arsenal atómico e preparam uma nova geração de “nukes.” A desculpa, quando se dignam a responder, é a urgência em precaver contra as ameaças indefiníveis de daqui a 40 ou 50 anos. 3) Nas matérias policiais, permanecem impunes os casos em que o ocidente armou nuclearmente nações clientes em violação dos comprometimentos com a IAEA – pense-se nos EUA a armar o Reino Unido, e o Reino Unido a armar Israel. 4) Nada se sabe e nada se investiga sobre a dimensão dos actuais arsenais atómicos. Quem se atreve a quebrar este silêncio é severamente punido, basta recordar o exemplo de Mordechai Vanunu. São estas as coisas que o Sr. ElBaradei não nos diz.

Comments:
Conheco esse debate porque acompanho os media ingleses. Tony Blair apos ter liberalizado as licencas para o alcool agora quer liberalizar as licencas do uranio e do plutonio. A ligacao com Quioto parece-me completamente oportunista, e a estrategia New Labour, jogar com os medos da populacao. Para salvar-nos do terrorismo o Iraque, para salvar-nos do aquecimento global o nuclear.

Fica tanto quanto sei por provar se o efeito da energia nuclear e assim tao neutro na combustao de carbono. Fica por mostrar como se vai tratar dos residuos originados ma fisao energetica. A motivacao tanto quanto percebo e estritamente economica, fica mais barato, e pela seguranca nacional, garante autonomia energetica para o Reino Unido num punhado de anos...
 
Quanto aos resíduos teremos inevitavelmente problemas.

"A motivacao tanto quanto percebo e estritamente economica, fica mais barato, e pela seguranca nacional, garante autonomia energetica para o Reino Unido num punhado de anos..."
A. Cabral

Dizes que é mais barata? Referes-te apenas às "renováveis"?

Quanto à motivação creio que te esqueces de que alguém vai ter que construir e gerir esses bichinhos e isso é certamente um bichinho apetecível.

Quanto a Portugal, um "benemérito" chamado Patrick Monteiro de Barros (um dos que fugiu após o 25 de Abril), já se veio tentar introduzir o tema e bem à bruta. Afinal, dizia ele que era uma solução barata e limpa. Entretanto, pelo sim, pelo não, vai construir um refinariazinha em Sines. Estando Portugal tão desesperado por empregos e o governos por estes símbolos de criação de emprego, as benesses para a empresa não devem ser nada más...
 
A nova refinaria de Sines e' um atentado! E as vitimas sao a economica local e o ambiente...

Esclarecendo o que queria dizer acima:
O fundamental e' ser uma energia rentavel, ou antes lucravel. O petroleo com o aumento do precos que se prevem, deixa de ser apetecivel. Nao e' que as petroliferas neste momento se estejam a queixar de curtas margens de lucro (alias tanto quanto sei tem feito bom dinheiro) mas e' questionavel se com estes precos nao se dara uma reducao do consumo, e ai o lucro vai sofrer. E' uma questao de tempo.
Ao dizer barato, queria dizer que tem um custo economico reduzido mas isso nao quer dizer que a malta passe a pagar menos na conta da electricidade. E' barato para o patrao.

O dou como consensual e' que a energia "verde" nao e' muito lucrativa. E' uma energia que nao permite grandes economias de escala ou cobranca de mais valias... Esta impressao sera erronea?
 
A energia verde começa a ser rentável muito em parte pelos subsídios dos governos (que muitas vezes pagam esta a prewços mais elevados). Por exemplo, havia um grande projecto de energia solar, creio que no alentejo.

Por outro lado, veja-se o caso da Holanda que tem muitas pequenas empresas a vender know-how e em gestão ambiental.

Quanto à Islândia tem empresas a vender tecnologia em energia geotérmica para a China e outros países.
 
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