14 novembro 2005
Os novos oráculos
São uma contradição para quem acredita que em Portugal não há nada de novo no horizonte. Falo dessa nova classe profissional - os jornalistas económicos. Os púlpitos para os novos pontífices da religião económica são o Diário Económico, o Jornal de Negócios, e o Semanário Económico. Seria interessante inquirir da tiragem deste novo jornalismo, porque se houve crescimento em títulos, em sites na internet, em convites aos editores e redactores para comentar noutros meios de comunicação, mas será que vende? Quantos exemplares? E quem os compra?
É possível que pela sua novidade a função social dos jornalistas económicos esteja ainda por se definir. Mas nesta transição, estes jovens profissionais com formação em teoria económica (conhecesse algum destes jornalistas com mais de 40 anos?) beneficiam em Portugal de uma credibilidade que em mais nenhum país se observa. Perscrutando as vísceras do animal económico, estes oráculos divinam o futuro do nosso pais, de como investir ou poupar, de como orçamentar o Estado, de como votar. Eles são os especialistas da economia, a quem cabe comunicar ao povão os mistérios da finança, do consumo e da produção.
Este país que transfere as suas ansiedades para os défices, para a globalização, para a politica económica europeia, como tiranos que vem de muito longe para nos magoar, e terreno fértil para estes pontífices da nova religião económica. Diária ou semanalmente somos oferecidos números sobre números, e explicações sempre parciais da tal "economia" que não nos deixam compreender, e com estes sempre deliberações definitivas no editorial. Talvez neste modo de comunicar o jornalismo económico não seja novo, afinal é também este o mecanismo da outra comunicação social: oferta sempre pedacinhos incompletos do mundo enrolados em pretensa factualidade, e nega-nos compreensão do mundo, sobre esta incerteza e a sua autoridade quer nos ensinar a pensar e a viver nos editoriais e artigos de opinião, ou ate nos rodapés dos artigos. O que e inegavelmente novo no jornalismo económico e que inventou uma nova sociedade para reportar nas suas paginas - uma tal de "economia".
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