15 novembro 2005

 

A novela dos pássaros


Soube-se hoje que os papagaios ingleses contaminados com febre dos pássaros e que espalharam o pânico no continente civilizado, estavam afinal saudáveis. A notícia está para já enterrada nos websites, quando é reportada. Mas havia doentes entre a passarada, uns alados da Formosa. Mais uma vez as certezas que se tinham provam-se falsas. A ciência é dúvida constante, e não nos oferece segurança.

Continua assim a novela de “a gripe que nos veio matar.” Os protagonistas são uns cientistas de solidariedades duvidosas, dado que a maioria são altos funcionários de organismos de saúde pública ou de farmacêuticas. A aplaudir e a puxar refrões da chegada do juízo final estão uns tantos políticos e distintos “opinion makers.”Contudo, a mensagem se bem ouvida, é de incerteza, não sabemos,

1. não sabemos se o vírus se pode mutar de pássaros para pessoas, seria o primeira vez de que há registo,
2. não sabemos se os afamados ciclos epidémicos tem alguma fundamentação biológica, ou se são uma espúria relação entre epidemias,
3. não sabemos se o vírus quando finalmente emergir, vai ser mais ou menos mortífero, e se não haverá formas eficientes de o combater.

Por um raciocínio bizarro, que me escapa, o melhor é dada a dúvida mergulhar no pânico. Não e para prevenir porque não se pode prevenir contra algo que não existe, que não se conhece. Tirando conter a contaminação da passarada o resto é provavelmente fútil. Então porque o pânico? O medo não sai barato. Este também é uma doença que nos pesa nos dias, que cansa e distrai de outras atenções. Será que “a gripe genocida” não é mais que um “Morangos com Açúcar”? Um espectáculo que só serve para nos mover entre emoções.

Comments:
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
(a meu pedido, foi apagado o comentário inicial, pois possuía duas gralhas (Corvus corone corone)... a ver vamos se este texto já se encontra livre dessas ameaças aladas! J.Capelo Gaivota)

Acerca da “A novela dos pássaros” – eu cá gosto de lhe chamar a “Gripe da Criação” ou “da Capoeira”... Não resisti a comentar. Parece-me que a desinformação anda no ar sim, mas, ao contrário do que esperava, ataca também a redacção do BiToque...

E então vamos lá ponto por ponto.

Já se sabia que os “papagaios ingleses” - e eu que pensava que era um e que era do Suriname... - tinha sido contaminado já no Reino Unido e pela passarada de gaiola do Extremo Oriente. Não há aqui nada de novo nisto, se calhar a redacção é que não anda atenta. O que isto demonstra é que, ao contrário da propaganda vigente, mais uma vez temos um caso de expansão do H5N1 não por aves migratórias, mas auxiliado por mão humana. Neste caso através do sempre lucrativo tráfico ilegal de animais exóticos... Lembro-me de ter lido no Público de há umas semanas atrás que o padrão de dispersão da gripe na Rússia seguia o trilho do trans-siberiano, que por acaso nem coincide com as terríveis rotas de migração do pito siberiano (aquele que há de trazer o armagedão gripal a pingar dos bicos...). Portanto a notícia não é nova, apenas mais um caso da histeria vigente.

E sim, neste ponto concordamos, há histeria a mais e sem dúvida, potenciada pelos média e no final disto tudo, quem se vai dar mal é a passarada. É interessante ver o efeito que medo das aves migradoras (até hoje está por provar que são elas que trazem o vírus) tem nas populações humanas. Para muitos a solução passa por aniquilar tudo o que voa nas imediações das cidades ou desatar a dragar as zonas húmidas para impedir que a passarada que vem do frio assente cá arraiais durante a Invernada – e ganhando assim mais uns terrenos urbanizáveis (epá, se a malta da Companhia das Lezírias me lê...).

Outro ponto que me causou espécie em “a novela...” foi a referência à mutação do vírus de aves para pessoas. Parece-me mais uma vez que a redacção está desatenta e mal informada. Isto já aconteceu sim. Ainda ontem, por exemplo. Portanto importa referir: o H5N1 de quando em vez contagia pessoas que estejam em contacto directo com aves contaminadas. O que ainda não se passou (há um caso duvidoso) foi a transmissão de gripe das aves de um ser humano para outro. E sim, é uma possibilidade que o vírus, uma vez num hospedeiro humano sofra mutações e ganhe essa capacidade de contágio. E todos sabemos como a gripe muta, senão não era preciso vacinarmo-nos todos os anos. Agora, isto é uma POSSIBILIDADE que deve ser analisada e testada. E isso faz-se, se deve ou não fazer-se não sei, tem coisas boas e coisas más – como tudo, aliás.

Quanto ao TAMIFLU... se é o anti-viral indicado, não sei, há estudos para todos os gostos (e uma referência nesse periódico de referência que é o DESTAK - ou era o METRO? – que fazia a ligação entre TAMIFLU e suicídio)... Lá que soa a negócio chorudo, soa, mas gostava de saber mais sobre o caso... De qualquer maneira, o circo está montado (para quem não vê isto basta pensar que qualquer cidadão tuga, por mais rude que seja, já decorou o nome TAMIFLU – e procurou na farmácia!)

Os ciclos epidémicos de gripe apenas nos alertam para algo que já se passou no passado. É assim como a História... quem quiser olhar e aprender que o faça. Quem quiser ignorar, arrisca-se a passar pelo mesmo.

E por último, quanto à mortalidade do vírus, está à vista. Mais de metade dos infectados humanos por H5N1 morreram (porque os há, ao contrário do que a redacção do BiToque afirma). Tudo leva a crer que se a gripe pega, vai ser dura. MAS SE PEGAR. E concordo que a contaminação da passarada tem de ser contida. Isto passa por controlar melhor o tráfico e tráfego de AVES DOMÉSTICAS e por manter em condições os locais de criação e venda destes animais.

Por último deixo aqui três moradas úteis anti-histeria, para quem queira ler alguma coisa sem cair na irracionalidade do medo do desconhecido.

www.spea.pt
www.birdlife.com
http://www.ecdc.eu.int/

J.Capelo Gaivota
 
(com lamentos pela falta de acentos)

O passaro era de facto do Suriname (tratei-o como ingles dada a proviniencia da noticia, e porque notava a proximidade geografica do evento, o que deu a forca de emergencia nos noticiarios nacionais). A noticia recente, referenciada no meu blog, era de que o bicho afinal nao morreu da gripe das aves. A amostra clinica do dito papagaio foi misturada com o de outras aves da Formosa, essas sim padeceram da gripe. O papagaio la morreu de outras causas. Isto para mim denota a confusao deste tema, e a facilidade como se parte para o alarme.

De facto o virus ja passou de aves para humanos. O que nunca se deu foi uma mutacao do virus das aves para virus humano (para um virus transmissivel entre humanos, que e condicao necessaria para uma pandemia). Nao ha evidencias que as grandes epidemias deste seculo tiveram origem semelhante numa doenca de aves, o que se sabe aponta que nao tenha sido esse o caso. Como o virus tera que passar por uma mutacao (provavelmente uma serie de mutacoes) para ser transmissivel entre humanos, a sua ferocidade esta ainda em duvida. Seria nesse caso uma besta nova, o que sabemos do HN51 pode servir de pouco.

A noticia sobre o TAMIFLU refere-se a casos de jovens japoneses que se suicidaram recentemente enquanto estavam medicados com o anti-viral. Isto pode nao ter nada a ver com a droga. Mais grave e' que em pelo menos dois casos na China tratados com o Tamiflu, nao houve qualquer resposta ao anti-viral, e possivel que ele nao tenha efeitos sobre o tal novo virus HN51-humanos.

Historia e' mais que uma cronologia. O ter havido 2 ou 3 epidemias com um periodo proximo pode nao ter nenhum significado. So e relevante se existir um mecanismo estavel que produza a regularidade (por exemplo um movimento eliptico que traz um cometa em revolucoes estaveis junto da terra). Um mecanismo para as epidemias esta longe de ser identificado. A bolsa de valores de Lisboa pode durante meses subir de cotacao todas as 5as feiras, mas nao quer isso dizer que continuara assim. O que parecem regularidades podem nao o ser. No caso pandemico so temos 2 ou 3 observacoes, e uma amostra bem curta para as certezas alarmistas que suscita.

Tudo isto para concluir que nao sabemos o suficiente para justificar este espectaculo de panico! Nao e pela gripe que nos comportamos assim, nao ha justificacao racional para o nosso comportamento, mas talvez hajam motivos culturais.
 
Acerca da amostra das epidemias, dois não é de facto número seguro para inferir grande coisa. Serve no entanto para estar alerta. É que cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém (ó Diabo!, má escolha de provérbio...).

É bom estar de sobreaviso. Não é bom entrar em parafuso. E aqui estamos de acordo. Está tudo a entrar numa histeria não fundamentada. Há que tentar prever uma possível mutação do H5N1. Não há é que desatar às voltas feitos galinhas tontas (ai esta escolha de palavras...).

Quanto ao TAMIFLU, saiu um artigo na Nature (ou era na Science?) a minar a credibilidade do dito quando confrontado com a gripe das aves em humanos.

Acresce ainda dizer que toda esta histeria pode mesmo ser muito má para as aves selvagens, pois gente torna-se perigosa. Um pouco por todo o mundo há sinais inquietantes desta irracionalidade, desde ninhos de andorinha destruídos (sabe-se lá o que as galdérias andam a fazer em África!) a avisos de perigo em zonas húmidas ("Migratory Birds carry Bird Flu" - Coreia), a ameaças de despombizar Barcelona inteira se aparecer um bicho com catarro.

Mas cá no burgo, não precisamos deste tipo de ameaças para sanar o ambiente! Muito antes de haver esse alarme anti-zona húmida, já o valoroso e visionário José Socrates, à data ao leme da pasta do Ambiente, desagregava de Zona de Protecção Especial para as aves fatia suculenta do Estuário do Tejo para permitir a construção do gigantesco Freeport. Isto é que é um homem de visão! Acabar com a zona húmida mesmo antes de que o pito se resfrie! Um exemplo de prevenção de sucesso, com contrapartidas económicas - até hoje por explicar.

Enfim, estou a sair do tópico mas lembrei-me... É que há coisas que custam a entender.

J.Capelo Gaivota
 
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
 
Tinha-me escapado que que umas das mais provaveis (e imediatas) vitimas desta histeria possam vir a ser as aves selvagens. Era-me mais proximo a recente compra desenfreada de Tamiflu via net ou a vacinacao contra a gripe vulgar com alegado potencial preventivo (o que tem uma base objectiva muito duvidosa).

O que apontas deve-se acrescentar como mais uma das perversoes trazida por esta linha editorial de medos e ameacas com que nos querem alimentar.
 
Enquanto a histeria da gripe das aves abranda, pode ser que se repare finalmente nos pombos. Essas adoráveis criaturas que encontramos nas melhores condições sanitárias em cada esquina, podem transmitir inúmeras doenças, inclusivamente a tuberculose.

Nesta sociedade mediatizada o que conta é o espéctaculo. Veja-se a classificação a nível internacional do "terrorismo" como o problema maior da humanidade. Esquece-se a pobreza e outras causas evitáveis que matam, "silenciosamente", muitíssimo mais.
 
Enviar um comentário

<< Home


   

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

   
   
Estou no Blog.com.pt