13 julho 2005
A culpa é da escola...
Falar mal da escola anda na moda. Perante os resultados dos exames de 9º ano de matemática, toda a gente aponta o dedo aos privilegiados professores. A escola não exige, a escola desculpabiliza, a escola facilita, os professores são mal formados, e qualquer um dava melhor professor do que aqueles que lá estão...Concordando que existem maus professores, como existem em todos os sectores profissionais, não me parece que o insucesso escolar possa ser justificado por aí. Se calhar devíamos olhar para o modo como a sociedade portuguesa olha e valoriza a escola. Cada vez mais as escolas são vistas como um depósito de miúdos, face aos crescentes e crescentemente desregulados horários de trabalho dos pais, onde é suposto os alunos aprenderem tudo. Os pais demitem-se de dar a educação básica, e exigem-na da escola. Mas o problema principal passará pela baixa valorização social da escola. As nossas taxas de abandono escolar continuam assustadoramente altas, muito provavelmente porque o adolescente que larga a escola consegue rapidamente encontrar um qualquer trabalho mal pago e a tempo parcial, para poder comprar os ténis e o último telemóvel. Porque, naquela idade, são estas as prioridades que a sociedade de consumo lhes impõe. Isto se pensarmos nos grandes centros urbanos, porque se olharmos para o interior, ou para as grandes zonas industriais, vemos pais a dizerem aos filhos para largarem a escola, porque na fábrica de têxteis que vai ser deslocalizada daqui a algum tempo há uma vaga para ganhar metade do ordenado mínimo...As famílias portuguesas não valorizam a escola, muitas ainda não suportam o custo de um filho que não se torna rapidamente uma fonte de rendimento, não a reconhecem como motor de mobilidade social, e isso dever-se-à ao facto de o nosso mercado de trabalho também não procurar a qualificação, mas ainda a mão-de-obra barata. Se a própria família não estimula o aluno a frequentar a escola, esta difícilmente o conseguirá. E perante a constante ameaça do abandono, o esforço da escola não está orientado para o ensino de excelência exigente que todos querem, mas procura tão somente evitar o abandono e transmitir mais algumas competências. A escola que temos é o reflexo linear das condições sociais existentes. Não há milagres.
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O que impede a escola de ser tudo aquilo que dela se exige? O que a impede de apropriar-se de responsabilidades tradicionalmente entregues a familia?
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