27 julho 2005

 

Censura


1. Tony Blair mudou o tom. A plácida confiança com que respondeu aos atentados em Londres, tranquilizando a populaça que não era afinal coisa grave e que os responsáveis não tardavam a ser castigados, foi descartada. A substituir a serenidade está um discurso acusador, indignado, ofendido, dorido, um acumulado de emoções. O Tony Blair que banalizava a tragédia à quatro dias e trivializava o medo, agora quer personificar a dor nacional e a sua justa raiva.

Esta transformação emocional tem um objectivo imediato. Blair acusa que discutir as “santas” guerras do eixo EUA-RU é dar uma justificação ao injustificável. Esses são argumentos que não podem justificar o que se passou, diz Blair, e continua que aceitar os argumentos é dar-lhes credibilidade e ajudar ao recrutamento terrorista. É agora interdito falar na guerra contra o Afeganistão e o Iraque, é ser-se com os terroristas. Quem o diz é o primeiro-ministro-totem de indignação popular, e o primeiro-ministro-vítima que se exonera de qualquer crítica ou responsabilização pelas mortes de 7 de Julho.

2. A democracia britânica é uma democracia a guião. Máscara segue máscara, papel segue papel, e o politico é um actor entre improviso e orquestração. Como espectáculo funciona melhor que a democracia portuguesa, onde o primeiro-ministro tropeça sobre si mesmo para não responder a comunicação social que o persegue como uma matilha, quando não insulta meio mundo do alto do seu pedestal governativo. Aqui ainda há silêncios, ainda há hesitações, ainda há gaffes!



   

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