10 julho 2005

 

9-11 e 7-7

Para os Americanos os atentados terroristas de 11 de Setembro foram um evento de significado histórico. O ataque foi revisitado incansavelmente, nas imagens dos aviões a mergulhar sobre as Torres Gémeas, nos testemunhos dos sobreviventes ou das famílias dos falecidos. Os media celebravam os atentados como um episódio único em que a banalidade do dia-a-dia era ferida pela imaginação mortífera de um inimigo sem nação, sem ideologia, quase sem rosto. Os políticos escreviam o guião acompanhando as emoções servidas a todos os minutos, como nas bandeiras que vestiam carros e casas, como nas campanhas de caridade que se multiplicavam pelo país. O 11 de Setembro foi de imediato comparado com o ataque a Pearl Harbour (que iniciou a Segunda Guerra americana) para assim assinalar o início de uma nova guerra. Aproveitando a galopante confusão enraivecida de uma nação que não conseguia entender o que se havia passado, a Casa Branca declarou guerra ao resto do mundo. O inimigo foi inscrito como todos aqueles que se opõem à “liberdade”, sinónimo (mitológico) da nação americana, ou seja todos os que se opõem aos EUA. O difuso inimigo islâmico que se esconde do Sudão a Indonésia, o menos difuso inimigo nuclear do Irão à Coreia do Norte ou o inimigo diplomático centrado nas Nações Unidas e nos arrogantes franceses, formavam a coligação anti-americana.

Nada do que se passou nos EUA se repetiu no Reino Unido. Passado um dia sobre os atentados os britânicos esforçam-se por esquecer. O evento não é repetido em noticiários, vigílias ou campanhas de caridade. Os media ocupam-se com o encontro do G8 ou com a celebração da vitória aliada na Segunda Guerra Mundial, mantendo a sua programação familiar e sem fomentar debate sobre o ataque. Os políticos que falam com solenidade e com determinação encenada nos rostos não extraem grandes lições sobre o futuro da nação ou da geopolítica. Há um incentivo para não se pensar, para não se falar, não vá a populaça fazer as contas e perceber que talvez a guerra no Iraque tenha motivado as dezenas de mortes em Londres. Há um incentivo para não dar razões ao milhão de pessoas que saíram à rua a 15 de Fevereiro de 2003 para acordar do seu sono. O inimigo desta feita não é corporizado, embora se reconheça a mão islâmica no ataque (varias explosões simultâneas, sem aviso e dirigidas à população civil) recusa-se nomear o ataque como obra da Al Qaeda. O 7 de Julho é comparado com um dos múltiplos ataques do IRA, só mais um na história de uma cidade que há muito se habitou ao terror.

E tudo isto funciona… As pessoas seguem no estreito caminho do dia a dia a engolir o trauma das mortes, a ocupar o silêncio com as banalidades dos atrasos nos comboios, ou as incertezas do tempo.




   

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