14 março 2005

 

Uma geração de 70


Nascido pós-Abril de 74, pré-bloco central, nesse limbo que separou a revolução e os yuppies à portuguesa, não sei se tenho geração.

Ser de uma geração exige sentido de comunhão e de distinção, como aliás se exige a todos esses andáimes sociais que são esqueletos bambos. Para isto de “criar” uma geração são precisos marcos, talvez uns tantos notáveis contemporâneos, umas revoluções políticas, estéticas ou afins. Exige-se um sentido de apropriação da história, do retirar aos “outros” as rédeas (distinção) para as entregar aos “nossos” (comunhão).

Mas hoje, aqui, não há distinção. O mundo sente-se suspenso num entremeio indefinido. Os impérios avançam mais fracos, mas de uma fraqueza que não é resistência, é esclorose. O país afunda-se num futuro cíclico onde a passageira ilusão é seguida pela violenta realidade do nosso atraso. Não há actores neste drama, basta-lhe a obscura inevitabilidade que alimenta a nossa poética fatuista. Ninguém realmente duvida que este é um país acorrentado e que daqui não se move.

O peso dos “outros” é tanto, e mesmo quem são os “nossos” é incerto. Há aqueles que como eu, tem de primeiras feridas na consciência social os anos de medíocre cavaquismo. Os mesmos talvez leram O Estrangeiro e A Aparicao não como manifestos mas como relatos factuais de um estranhamento anómico e sem história. Como eu esses terão andado às cabeçadas em PGAs, provas globais e/ou propinas, e desses momentos guerreiros ficaram somente memórias que à beira dos 30 é muito cedo para saudar.

Talvez haja distinção, talvez haja um “nós”, mas não hoje, e seja cedo para os testemunhar. Espero que o mal-estar seja só a minha impaciência para participar na história.



   

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