01 março 2007

 

Para que não haja eco na sala


O “programa de informação” na televisão portuguesa é hoje uma sessão espírita, onde o ausente público por ocultas artes é invocado para reinar sobre os presentes.

O cúmulo deste paradigma é o Prós e Contras, conduzido pela bruxinha Fátima Campos Ferreira. Também eu me interrogo porque motivo colocaram Fátima neste papel. Não terá sido certamente pela sua capacidade em conduzir as intervenções - todos os notáveis a atropelam e falam quando e quanto lhes bem apetece - nem será pelos seus reflectidos comentários - tipicamente, papagueia um conjunto de ideias-feitas em que insiste até à nossa náusea.

Mais interessante mas menos notada, é a forma como o Prós e Contras trata a sua audiência, aquela que enche os lugares do Teatro e que aplaude os genéricos do início e do fim, e os intervalos. Esta semana, o ministro da Saúde, ignorando os apelos de Fátima para dar a palavra a outros, disparava o seu rol de argumentos. A audiência enfurecida protestou com umas vozes soltas e interrogativas. Fátima, que fora ignorada e portanto humilhada pelo ministro, permanecia sorridente, mas ao ouvir as vozes vindas desse lugar proibido voltou-se para a plateia e sem a doçura habitual vociferou: "meus senhores, vieram aqui para estar calados", " se não se calam tem de sair, isto é um programa de informação."

Diz Fátima que é um programa de informação. Um programa que informa o público. Mas o publico não é aquele que está na plateia. O público também não coincide com manifestantes ou subscritores de abaixo-assinados. O público é talvez aquele dos indices de audiências, mas sobretudo é o sempre-ausente, que admite ser tudo o que jornalista queira que seja. Ou que o bruxo invoca na sua bola de cristal.



   

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