18 fevereiro 2006

 

Cala-te pá!


Num dos tascos da vizinhança, a ovelha-negra reflectiu sobre a actualidade de uma política anarquista. A resposta dos visitantes foi de pânica perplexidade – anarquia é termo para sumária e ritual condenação, não é tema para as sinapses.

Para aqueles que saltitam de blog em blog a comentar à esquerda e à direita, esta reacção não surpreende. Algures no código genético da moderação e bons costumes está inscrito que “anarquista” é insulto. O termo está a par com “terrorista”,”comuna” ou “anti-americano” numa lista de impropérios que têm entrada no dicionário. Estes são títulos para desferir em momentos de frustrada raiva. Arremessam-se estes termos em frases curtas e solitárias quando o debate entre opostos ideológicos já vai longo e sem resolução. Na física da retórica são como buracos negros, singularidades de massa infinita que pela sua gravidade engolem tudo o que se disse. É uma espécie de: “cala-te!” No momento seguinte, sobram só três tristes opções: a) não responder e abandonar a alarvidade; b) esgrimir com equivalente acidez; c) ofertar uma despedida cordial e altiva. Inevitavelmente a discussão finou. O curioso é que são projécteis que não ferem. Como outro vizinho dizia há uns tempos, ser comuna é para a gente motivo de orgulho. A conversa termina não pelo insulto ter aberto um armário de esqueletos mas pela violência no arremesso, na inegável intenção de anular a conversa, de negar a nossa voz. Aprende-se uma grande lição nesses momentos, o conversete não nos leva muito longe.

Comments:
A. Cabral,

O termo "anarquia" não é entendido no seu significado mais puro pela maioria das pessoas.Vou desenterrar um texto do meu baú e deixar aqui a ligação:

http://filhodo25deabril.blogspot.com/2004/05/04-de-maio-de-2004-27-anarquia.html

Abraço e bom fim de semana,
 
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