25 novembro 2005

 

25 de Novembro


Por ocasião dos 30 anos do 25 de Novembro de 1975 o General Tomé Pinto foi entrevistado por Público e Renascença com transmissão na RTP2. Este general, um dos mentores juntamente com Eanes deste golpe para “repor a ordem democrática”, dá-nos interessantes detalhes na elaboração deste.

Tomé Pinto começa por exemplificar as situações “inaceitáveis” que justificaram o 25 de Novembro. Fala da balbúrdia no exército, dos tribunais populares, entre outras coisas. Afinal, é preciso ordem e não há nada que um bom homem do exército não goste mais que ordem.

Ele conta como se começaram a preparar desde Abril/Maio de 1975. Desde então “fomos preparando meios: a Força Aérea que foi para Cortegarça. (...) Reparem, estávamos a criar no Norte não só o núcleo político, mas também um grupo militar em que a Força Aérea era a parte forte. Para Cortegarça foram deslocados não só todos os meios aéreos de cá como também muitos dos que chegaram do Ultramar. E tínhamos a certeza de que Pires Veloso [comandante da Região Militar Norte] aguentaria a situação”*. Mais, “alguns ex-militares percorreram o país para recrutar jovens desmobilizados para que reingressassem nas Forças Armadas. É com esse núcleo forte que Jaime Neves actua [no 25 de Novembro]”*.

E até diz onde estes “democratas” estavam dispostos a ir: “Havia que resistir em Lisboa. (...) O que tínhamos a fazer era salvaguardar o poder político para ele poder actuar a partir do Norte. Lá, tínhamos o [brigadeiro] Pires Veloso [comandante da Região Militar Norte] e força bastante, mas aí haveria combates, ocupação, uma guerra civil.”*

A entrevista continua revelando outras movimentações realizadas no mesmo sentido. Após as suas palavras só nos resta fazer uma pergunta: Afinal quem é que preparou o golpe? Ainda hoje, muitos políticos e comentaristas continuam a insistir que se tratava de um golpe de esquerda ou de fazer face a um golpe. A estes basta recomendar a leitura da entrevista de Tomé Pinto. Desta resulta claro que o suposto golpe de esquerda não passou de um pretexto, pretexto que permitiu a determinadas elites “repor Portugal no caminho certo”, substituindo-se às do antigamente. E de lá até agora o saque continua.

Permitam-me ainda duas notas. Tomé Pinto classifica ainda Jaime Neves como um patriota. Diferentes relatos apontam que por vontade deste e de vários dos seus Comandos, alguns com ligações a movimentos de extrema direita como o MDLP, talvez se tivesse inclusivé voltado ao 24 de Abril. Finalmente, é reveladora a preocupação de Tomé Pinto em enaltecer o papel de Mário Soares, segundo ele um homem fundamental na democratização de Portugal. Desta rica democracia que temos...

*As citações apresentadas são extractos da entrevista de Tomé Pinto ao Público/Rádio Renascença publicada no dia 22 de Novembro.

Comments:
Forte e feio. Bem vindo, de facto.
 
Mas ainda há mais. Extracto do Público (4-11-2005), Memória 30 anos de PREC:

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A 4 de Novembro de 1975 Frank Carlucci está a passar uma semana inteira no Norte "em visita de cortesia às autoridades civis e militares". O Comércio do Porto mostra-o sorridente, acompanhado pelo comandante da Refgião Militar Norte (RMN), brigadeiro Pires Veloso. Os jornalistas insistiram nas especulações (...) sobre a iminência de um "golpe militar reaccionário", de que o DN fez eco ontem (...). [Justificando a sua presença responde]"Estou acreditado embaixador em todo o país, e Portugal não é só Lisboa"
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Afinal quem andava a preparar o quê?
 
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"Não tenho nada a ver com o ELP, com o MDLP, com a CIA ou com qualquer outra coisa"
Frank Carlucci aos jornalistas à saída do encontro com Pires Veloso, na RMN, Porto
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Mais um que só veio ver a bola...
 
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